Uso de anabolizantes aumenta 60% dos problemas hormonais e cardíacos

A busca pelo corpo ideal é uma motivação frequente para o uso de anabolizantes. Assim, numerosos indivíduos, especialmente os jovens e atletas, anseiam por um aumento rápido da massa muscular, aprimorar seu desempenho esportivo e alcançar uma aparência física mais atlética.

“Vê uma melhora significativa no ganho de massa corporal […] E eu tive volume nas coxas, no glúteo e ele, a princípio, na época, fazia secar. Então, o que era gordura, meio que saía”, esse é o relato da empresária Jéssica Leite que há 13 anos fez o uso de anabolizantes durante um período. 

Muitas pessoas optam por soluções mais rápidas, isso ocorre porque os esteroides anabolizantes androgênicos (EAAs) permitem que esse objetivo seja realizado em menor tempo. Porém, é importante ressaltar que, infelizmente, seu uso traz diversos efeitos colaterais.

Os EAAs, que são medicamentos de uso controlado, são substâncias sintéticas elaboradas a partir do hormônio testosterona, conhecido como “hormônio masculino”, que confere características como barba, cabelo e pelos. Além disso, possuem uma notável capacidade anabólica, motivo pelo qual são popularmente referidos como “bombas”.

Uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) veda a prescrição de tratamentos hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes para fins estéticos, que traz um aumento de massa muscular ou aprimoramento do desempenho atlético.

De acordo com a Lei No 9.965, somente profissionais de saúde, como médicos e dentistas, têm a permissão para prescrever esses medicamentos. A prescrição médica para o uso de anabolizantes é restrita a situações específicas. 

De acordo com a médica endocrinologista, Leandra Negretto, a principal indicação é para homens que sofrem de deficiência de testosterona (hipogonadismo). Além disso, existem situações que envolvem queimaduras graves e alguns tipos de câncer.

A médica endocrinologista, Leandra Negretto alerta sobre os efeitos colaterais e doenças cardíacas e psiquiátricas. Foto: Einsten Goiânia

“Existe o cenário de hipogonadismo masculino, quando o indivíduo do sexo masculino tem uma produção baixa de testosterona. Nesse caso, a primeira conduta é investigar a causa através da qual ele desenvolveu esse déficit hormonal e sanar, ele pode continuar sendo ou não um candidato de reposição de testosterona. E outras indicações muito específicas é quando há pacientes com queimaduras graves, queimaduras extensas, ou indivíduos com sarcopenia, via de regra ligada a câncer”, explica.

A Anvisa, alerta que as indicações aprovadas para os medicamentos anabolizantes são aquelas que constam nas bulas. Outras indicações não foram analisadas e não estão autorizadas.

Segundo Negretto, os riscos causados pelo uso sem indicação médica são diferentes para as mulheres e os homens. Para a mulher, ela fica sujeita ao engrossamento da voz, aumento da clítoris, que são irreversíveis. Além da mudança de humor repentina, surtos psicóticos em pacientes que já têm transtornos psiquiátricos de base, calvície de padrão masculino, piora da acne ou surgimento de acne, piora do perfil lipídico, aumento da chance de eventos tromboembólicos dentre eles, o Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto e morte súbita.

“Eu tive alteração na voz. E aí o que aconteceu? Esses efeitos foram pra sempre. Não foi como o caso de você tomar um anabolizante e ficar com um corpo bonito pra sempre. Então, foi mais coisas ruins do que boas. E as ruins, elas ficaram com sequelas, porque nunca mais voltaram a ser como eram antes. O cabelo até voltou, mas ficou mais frágil”, afirma Jéssica. 

Já para o homem, os riscos são de piora do perfil lipídico, aumento da chance de infarto, derrame, AVC, aumento do coração, hipertrofia ventricular esquerda. “As câmaras do coração aumentam de volume, o paciente pode desenvolver uma insuficiência cardíaca, ele fica com o coração, aquele aspecto de coração de boi, muita agressividade, aumento muito importante do desejo sexual de maneira intempestiva e desequilibrada, piora dos transtornos psiquiátricos de base e também infarto, AVC e outros tipos de eventos tromboembólicos como, por exemplo, embolia pulmonar”, destaca a especialista.

Os indivíduos podem apresentar ainda impactos endócrinos associados a quadros de infertilidade, disfunção erétil e diminuição de libido. 

“O paciente passa a consumir testosterona exógena e a sua produção endógena cai bastante, prejudicando inclusive a sua espermatogênese, que é a produção natural de espermatozoides. O consumo de esteroides anabolizantes, que inclusive é altamente proporcionador de adição, criador de vício, pode fazer com que o paciente desenvolva infertilidade, diminuição da sua produção, ou seja, ele vai desenvolver um hipogonadismo masculino”, continua Leandra.

Danos podem ser maiores se o produto for clandestino

O uso de esteroides anabolizantes sem necessidade médica é prejudicial à saúde, e sua ingestão se torna ainda mais perigosa quando esses produtos são fabricados clandestinamente. Esta é a preocupação levantada por especialistas e autoridades de saúde, especialmente após uma operação policial realizada no Rio de Janeiro e em Brasília, que desmantelou um grupo criminoso envolvido na produção e venda dessas substâncias em todo o Brasil.

A operação resultou na prisão de 15 indivíduos e na apreensão de mais de 2 mil frascos de anabolizantes no dia 14 de janeiro. Os integrantes da quadrilha vendiam os produtos pela internet. A investigação revelou que o processo de fabricação não era supervisionado e que os anabolizantes continham até uma substância, o benzoato de metila, utilizada para eliminar piolhos.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a comercialização de anabolizantes só é autorizada em farmácias e drogarias que estão devidamente registradas, e é imprescindível a apresentação de uma receita especial. Qualquer anabolizante que não tenha a aprovação da Anvisa é considerado um produto ilegal.

“Não foi um medicamento que eu comprei na farmácia, com prescrição médica, com acompanhamento de alguém da área específica. Foi compra de uso no mercado negro mesmo, dentro da academia que eu malhava no ano mais ou menos de 2012. Eu não fiz o procedimento certinho, como seria com um profissional”, diz a empresária.

A médica afirma que produtos falsificados podem estar contaminados, e inclusive podem gerar infecções no local da aplicação. O paciente, uma vez usando uma medicação falsificada, pode estar sujeito a doses muito maiores do que a dose prescrita.

“O paciente passa a ficar completamente viciado no consumo dessas substâncias. Agressividade, piora dos transtornos psiquiátricos que esse paciente possa ter e nem saiba, ou desenvolver transtornos psiquiátricos pelo seu consumo. Piora o aspecto da pele, calvície na mulher e calvície no homem. Aumento da massa muscular cardíaca, o que é péssimo e pode gerar insuficiência cardíaca. Aumento do colesterol e piora do seu perfil de colesterol. Aumento da chance de ter eventos tromboembólicos, então, AVC, infarto e morte súbita. Então, além dessas questões estéticas relativas à pele, cabelo, tem inclusive o risco de morte, de evoluir para eventos fatais”, finaliza. (Especial para O Hoje)

Recomendações para evitar a compra do medicamento falsificado:

  • Suspeite de produtos recebidos fora da embalagem original. Todos os medicamentos são fornecidos dentro de caixinhas de papel;
  • Suspeite de produtos que são comercializados em sites que não sejam de farmácias e drogarias regularizadas. Evite sites em geral e marketplaces, vendedores ambulantes, carros de som ou outros estabelecimentos que não podem comercializar medicamentos. É que os produtos vendidos nesses locais têm procedência incerta e podem ser falsificados;
  • Fique atento a indicativos de falsificação, como erros de português na embalagem; falhas na impressão das informações; diferenças nas datas de fabricação e de validade e no número do lote entre a embalagem primária (ampola, blister, frasco) e a embalagem secundária (caixinha de papel); raspadinha que não aparece a logo da empresa; e ausência de lacre de segurança ou falha na colagem da embalagem secundária.

Fonte: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

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