A importância de cuidar da saúde mental na gravidez e na maternidade

A gravidez é um período de grandes transformações para a mulher, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. As mudanças mais visíveis, como o aumento da barriga, dos seios e o inchaço de pés e mãos, são amplamente conhecidas, mas existem transformações mais sutis, porém igualmente significativas, que afetam o cérebro e o sistema hormonal da gestante. Essas mudanças podem durar até dois anos após o parto, e os impactos na saúde mental das mulheres durante esse período merecem uma atenção especial. 

A saúde mental das gestantes e mães é uma questão de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com transtornos mentais, e o Brasil ocupa o topo da lista de países mais ansiosos e o quinto lugar em depressão. As mulheres são as principais vítimas de distúrbios mentais graves, como ansiedade e depressão. No Brasil, as mães representam 69% da população feminina, o que destaca a necessidade de um olhar mais atento à saúde mental dessas mulheres, pois seu adoecimento psicoemocional impacta não só sua saúde, mas também a de toda a família.

Transtornos mentais na gravidez 

Entre os transtornos mais comuns na maternidade, a depressão pós-parto se destaca como um dos mais frequentes, afetando cerca de 25% das mulheres brasileiras entre seis a 18 meses após o parto, conforme dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Um quadro comum logo após o nascimento é o baby blues, que se caracteriza pela instabilidade emocional e choro excessivo, geralmente transitório e benigno. Contudo, se esse estado emocional persistir por mais tempo, pode ser um indicativo de algo mais grave, como a depressão pós-parto. 

A depressão pós-parto, muitas vezes confundida com um baby blues prolongado, se manifesta com tristeza profunda, apatia, irritabilidade e até pensamentos suicidas. A falta de interesse nas atividades diárias, a dificuldade de concentração e a sonolência constante são sinais que podem indicar a presença de um transtorno de humor no pós-parto, muitas vezes subdiagnosticado. A ideia de que este é um período exclusivamente feliz acaba por desconsiderar a experiência real de muitas mulheres, que enfrentam dificuldades emocionais profundas. 

Além dos danos à saúde da mãe, a depressão pós-parto prejudica o vínculo entre mãe e filho, afetando o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança. A mulher afetada por essa condição costuma amamentar menos e negligenciar o calendário vacinal do bebê, o que pode resultar em problemas de saúde para a criança, como baixo peso e distúrbios psicomotores. 

Causas e fatores de risco 

A causa dos transtornos mentais na gestação e no pós-parto é multifatorial. A queda abrupta dos hormônios, especialmente o estrogênio, após o parto é um dos principais gatilhos para o desenvolvimento desses distúrbios. Além disso, a solidão e a falta de uma rede de apoio emocional são fatores críticos que agravam a situação. Muitas mulheres enfrentam o processo de maternidade sem o suporte necessário, o que contribui para o aumento da ansiedade, da solidão e do estresse. 

Além disso, histórico anterior de depressão, ansiedade atual, gravidez indesejada ou não intencional, histórico de violência física, psicológica e/ou sexual, ao longo da vida ou com o parceiro atual e doença crônica prévia são fatores que podem comprometer a saúde mental da gestante. 

É de extrema importância a detecção dos sintomas depressivos durante o pré-natal, para que seja tratado durante o período gestacional, pois os efeitos da depressão podem atingir o recém- nascido, acarretando baixo peso ao nascer, prematuridade e atraso no crescimento durante o primeiro ano de vida

O esgotamento materno

Outro problema crescente relacionado à saúde mental das mães é o esgotamento emocional, conhecido como mommy burnout ou burnout materno. O termo é utilizado para definir o cansaço e o estresse crônico de mães sobrecarregadas com as funções maternas, tarefas do dia a dia, vida social, entre outras coisas. 

Esse tipo de esgotamento, embora semelhante ao burnout profissional, ocorre devido à sobrecarga de responsabilidades parentais, como os cuidados com os filhos e as tarefas domésticas. Um dos principais sintomas do burnout materno é a sensação de ineficiência nas relações com os filhos, o que pode afetar profundamente a qualidade do cuidado e da proteção oferecidos a eles. 

Nesse caso é necessário buscar ajuda profissional para lidar com o desgaste emocional, que vai avaliar a intensidade e frequência dos sintomas da doença e verificar se eles estão afetando ou atrapalhando as funções cotidianas da mulher.

Além disso, são levadas em consideração as questões hormonais, que também podem agravar o esgotamento. Em alguns casos mais graves, o psicólogo encaminha a paciente para avaliação psiquiátrica, especialmente se for necessário a utilização de medicamentos.

A Importância do apoio psicológico 

O apoio psicológico durante a gestação e o pós-parto é essencial para ajudar a mulher a desenvolver resiliência e a lidar melhor com os desafios emocionais dessa fase. A resiliência permite que a gestante enfrente a ansiedade, o estresse e os medos relacionados ao parto, além de preservar sua saúde mental ao longo de toda a maternidade. Estratégias de enfrentamento adequadas podem ser determinantes para que a mulher mantenha seu bem-estar e qualidade de vida. 

Adotar hábitos saudáveis também desempenham um papel fundamental na saúde mental durante a gravidez. Uma alimentação balanceada, rica em nutrientes como ômega-3, folato, ferro, zinco e vitaminas do complexo B, pode ajudar a reduzir oscilações de humor e melhorar a saúde cerebral e emocional da gestante. Alimentos como peixes, vegetais verdes, leguminosas e grãos integrais devem ser priorizados. A prática regular de atividades físicas, que libera endorfinas, melhora o humor e combate a ansiedade, também é altamente recomendada. 

Além disso, garantir um sono adequado e investir em técnicas de relaxamento, como yoga e meditação, pode ser eficaz no controle do estresse. A presença de uma rede de apoio formada por familiares e amigos é essencial para que a gestante consiga lidar com as mudanças e os desafios emocionais da gravidez. Evitar o consumo de substâncias como álcool e cafeína também pode ajudar a prevenir a piora dos sintomas de ansiedade e depressão. 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.