Historiador explica extrema-direita, fascismo e nazismo 

No dia da posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o bilionário Elon Musk gerou polêmica ao fazer um movimento que foi comparado a uma saudação nazista. O empresário rejeitou as críticas e classificou como ataque “cansado”, mas o tema ganhou as redes e o debate.

Enquanto veículos diversos tentaram analisar o gesto de Musk, o Jornal O HOJE procurou um historiador para esclarecer acerca de nazismo, fascismo e extrema-direita, temas tão falados nos últimos anos. José Luciano Pereira Neto trabalhou no mestrado com a formação e independência dos movimentos de libertação na África portuguesa (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe) e a relação teórica na formação dos movimentos junto ao Partido Comunista Português e faz doutorado em História Social pela USP.

Ele explica que a extrema-direita não é necessariamente fascista, mas pode se aliar ao movimento em determinados momentos políticos. “A diferença está no limite que o fascismo está disposto a chegar na instrumentalização da ciência usada para matar.”

Ainda sobre esse espectro, trata-se de um movimento de classe de ordem capitalista com o intuito de combater o comunismo e sua inserção nas classes trabalhadoras – manter a ordem do capitalismo, com trabalhadores desorganizados e sem capacidade de mobilização. Pode atuar dentro da “ordem democrática” ou tomar o poder pela força.

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Acerca do fascismo, Luciano deixa claro que o termo enquanto movimento foi destruído no final da Segunda Guerra. “No entanto, não foi destruído enquanto forma social de organização. Seus conceitos, ideologia, sobreviveram ao longo do tempo. O que aconteceu é que essa ideologia evitava subir à superfície em embates claros. Obviamente, por conta de seus inúmeros crimes durante a Segunda Guerra, logo seus defensores preferiram meios subterrâneos de propagar suas práticas autoritárias.”

Ele cita como características o autoritarismo de Estado, a violência, além de uma posição antidemocrática, anticomunista e antiliberal. Outro ponto é a visão mecanicista da sociedade – considera o Estado como uma máquina artificial, criada para proteger as liberdades dos indivíduos -, mas com controle rígido do Estado. E, por fim, a perseguição de minorias, o que inclui imigrantes, comunistas, judeus, gays, ciganos, etc.

O fascismo ainda possui uma estrutura com eixo horizontal, com a cooptação de estruturas históricas (igreja e exército); e um vertical, mais moderno, que coopta fenômenos democráticos atuais, como sindicatos e partidos políticos. Também faz parte do movimento o monumentalismo, ou seja, construções gigantes, passeatas recorrentes, perseguição de inimigos e mais. 

Sobre o nazismo, o historiador diz se tratar de um tipo de fascismo, contudo, com uma corrente eugenista que defende a eliminação física de raças consideradas inferiores. “O fascismo e o nazismo são essencialmente uma mesma coisa. É correto dizer que o nazismo é um fascismo, com o agravante de uma corrente eugenista.”

O também professor fez questão de ressaltar ter se baseado em autores como João Bernardo, Hannah Arendt, Élisabeth Roudinesco e Nildo Viana para comentar o tema. Durante o mestrado e agora no doutorado, ele estudou revoluções do século XX, com foco na Revolução dos Cravos em Portugal (1974-1975).

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