Brasil não está imune aos impactos da guerra comercial de Trump; entenda

A nova fase da guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já começa a mostrar seus primeiros efeitos globais. Nesta terça-feira (4), entrou em vigor uma tarifa de 10% sobre produtos chineses importados pelos EUA, marcando o início de uma política protecionista mais agressiva. Enquanto México e Canadá conseguiram adiar a taxação de 25% após negociar compromissos com o governo americano, o Brasil, por enquanto, permanece fora da lista de alvos. 

Ao O HOJE, a economista e analista de mercado Greice Fernandes ressalta que o país não está imune aos impactos dessa guerra comercial, que pode trazer consequências negativas para a economia brasileira, como inflação, alta da Selic e pressão sobre o setor produtivo.

Protecionismo

Ao que tudo indica, a política comercial de Trump em seu segundo mandato deve ser ainda mais protecionista do que na primeira gestão. Durante a campanha, o republicano propôs tarifas de 10% a 20% para todos os parceiros comerciais dos EUA, além de sobretaxas de 60% para produtos chineses e mais de 100% em casos específicos. A implementação gradual dessas medidas trouxe alívio temporário aos mercados, mas a confirmação das tarifas nesta semana gerou volatilidade global. Bolsas de valores caíram, e o dólar se fortaleceu, refletindo a incerteza sobre os rumos do comércio internacional.

Leia mais: Grupo Construcap vence leilão de concessão do Complexo Serra Dourada

A China reagiu rapidamente, anunciando tarifas de 10% a 15% sobre produtos americanos, como petróleo, carros e maquinário agrícola. Enquanto isso, México e Canadá evitaram a taxação de 25% após se comprometerem a reforçar o controle de suas fronteiras, atendendo a uma das principais demandas de Trump: barrar a entrada de migrantes ilegais e drogas nos EUA. O presidente americano justificou as tarifas como uma forma de combater a epidemia de opióides no país, alegando que os três países contribuem para o problema.

Brasil na mira de Trump?

Até o momento, o Brasil não foi alvo direto das tarifas de Trump. No entanto, Greice Fernandes ressalta que o Brasil não está completamente seguro. “Trump tem uma postura imperialista e protecionista. Ele vê o comércio global como uma relação de exploração, onde os EUA estariam sendo prejudicados. Por isso, não podemos descartar a possibilidade de o Brasil ser taxado no futuro”, explica a economista. 

Outro fator de risco é a participação do Brasil nos Brics, bloco que inclui China, Rússia, Índia e África do Sul. Trump já ameaçou impor tarifas de 100% aos países do bloco caso apoiem iniciativas de uso de moedas alternativas ao dólar. Embora não haja um plano concreto para a adoção de uma moeda única, os Brics têm avançado em transações comerciais em moeda chinesa e empréstimos em moedas locais, o que pode despertar a atenção do governo americano.

Greice Fernandes também destaca que, caso o Brasil seja taxado pelos EUA, os impactos podem ser significativos, o que levaria a uma elevação de preços, aumento da inflação e, consequentemente, a uma alta da taxa Selic. Ela também alerta para o risco de uma hiperinflação, semelhante à vivida pelo Brasil na década de 1990, caso o governo não haja de forma eficiente.

Diante dos riscos, a especialista defende que o governo brasileiro adote uma postura firme – mas com diálogo. E que, se necessário, responda à altura taxando produtos americanos. Para ela, os efeitos só serão menores caso o governo promova, de fato, um corte de gastos consistente.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.