Manter um pensamento positivo e ter uma rede de apoio fazem parte do coquetel de cura do câncer

Quando recebemos o diagnóstico de uma doença rara e incurável, como foi o meu caso, sempre surgem pessoas a nos dizer que devemos manter um estado mental positivo. Eu tenho levado esse pensamento ao pé da letra, há muitos anos. A ciência já vem registrando estudos que sinalizam a relação direta entre a imunidade e o nosso “estado de espírito”. Tenho certeza de que, para além dos tratamentos, ter uma rede de apoio e um olhar positivo para a vida me fez ir além e chegar até aqui.
 
Aos 19 anos, fui diagnosticada com um câncer raro e incurável, um prognóstico de dois meses de vida. Foi um choque para todo mundo. Fiz inúmeras cirurgias que transformaram meu abdômen e tudo isso me tirou a possibilidade de gerar um filho.

 
Tenho revisitado essa história nos últimos meses em entrevistas e conversas com amigos. Muitos nem faziam ideia dessa minha jornada. Quando me vêem em uma aventura como a 1ª Expedição de Alta Montanha somente para mulheres na Bolívia, que realizei no ano passado, a maioria não acredita no que enfrentei até estar ali.

 Já se passaram muitos anos, já estou na fase de acompanhamento ambulatorial, mas ainda choro quando relembro cada passo. É quase uma catarse. E a pergunta que sempre me fazem é: como você reuniu forças para seguir em frente? E, minha resposta é sempre a mesma: além do amor que recebo da minha rede de apoio, desistir nunca foi uma opção. Seguir os tratamentos, fazer exercícios físicos e manter uma boa alimentação é fundamental. Mas contar com o apoio de familiares e de tantos amigos incríveis, além de manter o pensamento positivo são absolutamente decisivos nos resultados do tratamento e na cura.

Desde muito cedo, enfrento mais do que a sombra do diagnóstico, tratamentos agressivos e invasivos, tragédias pessoais e diagnósticos limitantes. Enfrento o estigma do câncer e a expressão de compaixão das pessoas. E, eu mesma me surpreendo quando conto algumas passagens para as pessoas. Hoje, tudo parece um grande roteiro de cinema. Mas, é a minha vida e ela ainda está em curso.
 
Contar em um livro a minha história foi uma forma de mostrar que não é só sobre seguir em frente. É sobre fazer valer o esforço que fazemos para estarmos vivos. E, claro, amar a vida. E essa é a verdadeira jornada. Cada um de nós vive desafios diários. Vamos vencendo cada um. Alguns, não conseguimos superar, mas servem de aprendizado ou impulsionam novas tentativas que vão dar certo. E essa é a mensagem que quero passar. Para mim, o mantra é sempre o mesmo: desistir  nunca é uma opção.

Nunca recebi alta, tive remissão ou cura. Fui vivendo cada dia como se nunca tivesse conhecido uma  situação diferente. E minha jornada segue firme. O desejo de saber que estou aqui para viver os meus sonhos, seja amando, trabalhando, mergulhando, esquiando, subindo uma montanha, escalando ou viajando. Esse é o meu alimento. Há vida após o câncer. Ser feliz é um ato de coragem.

 
Autora:

Carmen Alves: Executiva, que atuou em um banco em Zurique (Suíça) por 22 anos e agora autora do livro ‘Lágrimas do Sol’ onde conta sua jornada de conviver há 36 anos com um câncer raro e incurável, sem nunca se deixar abater pela doença.

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