PT, 45 anos – 15/02/2025 – Celso Rocha de Barros


O Partido dos Trabalhadores completou 45 anos de idade semana passada. Já escrevi um livro dizendo o que acho de sua história até aqui: em resumo, você pode não achar as propostas do PT boas, mas tem que aceitar que o PT foi ótimo para a democracia brasileira. Discordar disso é desistir de conversar com os fatos.

Mas qual o futuro do PT? O partido sobreviveu a uma crise que parecia fatal entre 2015 e 2018 e ajudou a salvar a democracia brasileira elegendo Lula em 2022. Mas sua sobrevivência como legenda relevante não está garantida.

Os principais desafios diante do Partido dos Trabalhadores são consequência de mudanças da sociedade brasileira nas últimas décadas. O Brasil se tornou um caso clássico do que o economista Dani Rodrik chamou de desindustrialização prematura: deixamos de ser industrializados antes de nos tornarmos ricos. A desindustrialização dificulta a formação de partidos operários clássicos, como o PT parecia destinado a ser em sua origem.

Os petistas se adaptaram a esse novo quadro graças às políticas de transferência de renda, cotas raciais e aumentos do salário mínimo. Deu muito certo, e o PT se tornou um grande vencedor de eleições presidenciais.

Mas as cotas e as transferências de renda viraram parte do repertório normal da política brasileira: nem Bolsonaro ousou acabar com as cotas, e sua única política pública realmente popular —o auxílio emergencial— era uma homenagem involuntária aos petistas, em especial Eduardo Suplicy.

Com o tempo, essas políticas vão deixando de ser um diferencial petista. E os aumentos do mínimo, com seu impacto fiscal decorrente das vinculações de benefícios sociais, podem se tornar mais difíceis.

O PT também precisa lidar com a virada à direita no ambiente ideológico dos próximos anos. Vai ter que discutir com a nova classe trabalhadora do empreendedorismo popular, vai ter que mediar conflitos culturais difíceis.

São tarefas complexas, mas o PT conta com algo importante a seu favor: a facção Jair-Malafaia jamais entregou qualquer política pública concreta que resolvesse os problemas dessa nova classe trabalhadora em disputa. A direita está muito mais entusiasmada que a esquerda, mas não é porque tenha descoberto soluções para o que quer que seja.

Finalmente, o PT vai ter que lidar com a grande reformulação da política brasileira nas últimas décadas: desde a reforma política de 2017, a direita está construindo máquinas políticas cada vez mais poderosas.

O PT propôs reformas parecidas em seus governos anteriores. Se o PSDB tivesse topado, não estaria prestes a desaparecer. Infelizmente, a reforma aconteceu exatamente no momento em que o centrão reinava absoluto após vencer a batalha da Lava Jato.

Se o PT não conseguir se consolidar entre essas grandes legendas, a política brasileira pode se reduzir à disputa entre o partido do furto (o centrão) e o partido do assalto à mão armada (o bolsonarismo). Parece cada vez mais claro que esse quadro só será evitado por uma federação de esquerda mais ampla. Talvez até, como em 1994, uma esquerda forte ressuscite a direita decente.

Enfim, 45 anos depois, os desafios enfrentados pelo Partido dos Trabalhadores continuam parecidos com os enfrentados pela democracia brasileira.


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