Série sobre Darién vence Grande Prêmio Folha 2024 – 18/02/2025 – Poder


Um ano antes do retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, a Folha visitou o único trecho terrestre que liga a América do Sul à América Central. A cobertura deu origem à série “Darién, a selva da morte”, vencedora do Grande Prêmio Folha de Jornalismo 2024.

A premiação chega à 32ª edição e é concedida anualmente aos melhores trabalhos produzidos pelos profissionais do jornal. O objetivo é estimular a melhoria da qualidade do conteúdo oferecido ao assinante. Ao todo, são sete categorias, cujos trabalhos premiados são escolhidos por uma comissão interna.

O grupo avaliador foi formado por Alexandra Moraes, ombudsman do jornal, Roberta Raga, gerente-administrativa da Redação e do Banco de Dados, Tomas Pereira de Almeida Silva, gerente jurídico, além das colunistas Dora Kramer e Deborah Bizzaria.

Idealizadora da série vencedora do Grande Prêmio, Mayara Paixão já escrevia sobre migração nas Américas havia dois anos quando uma informação no rodapé de um relatório do governo do Panamá a surpreendeu. Segundo o documento sobre o fluxo de pessoas em Darién, floresta na fronteira do país com a Colômbia, todos os brasileiros que cruzavam o trecho, em 2023, eram crianças e adolescentes filhos de haitianos.

Mayara e o fotojornalista Lalo de Almeida foram para a região no início de 2024. Eles passaram seis dias no Panamá e somaram mais de 60 entrevistas, entre imigrantes, membros das comunidades indígenas locais e de organizações humanitárias e autoridades de Estado.

Publicada em março do ano passado, a reportagem foi dividida em cinco capítulos. O primeiro texto trata dos mais de 15 mil menores brasileiros que cruzaram Darién rumo aos Estados Unidos, de 2020 a 2023. Eles atravessaram o local acompanhados dos pais, a maioria haitianos que construíram família no Brasil e se viram sem perspectivas econômicas.

Este capítulo está disponível em português, inglês e espanhol, mas tem como diferencial a versão traduzida para o crioulo. A ideia surgiu de uma provocação do então ombudsman da Folha, José Henrique Mariante, para que o material chegasse às pessoas afetadas diretamente pelo assunto.

A série ainda relata por que o Brasil se tornou porta de entrada de asiáticos, africanos e caribenhos rumo aos EUA e como essa política faz com que coiotes aproveitem para guiar imigrantes para a selva de Darién.

A reportagem também mostra como a desigualdade socioeconômica separa latino-americanos de asiáticos após a travessia. Ainda, explora a transformação de comunidades indígenas onde jovens optam por trabalhar com a economia em torno desse fluxo.

“Darién, a selva da morte” termina abordando as consequências da subnotificação da violência na região. O número de corpos de migrantes retirados do trecho entre Colômbia e Panamá é apenas uma pequena parcela dos que não resistem à travessia.

A reportagem deu visibilidade ao tema e atraiu outros veículos brasileiros para a cobertura da região. Além disso, foi reconhecida com o Prêmio de Cobertura Humanitária Internacional de 2024, iniciativa da Delegação Regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

A série também impactou diretamente o destino de duas personagens. As duas bebês que estavam em abrigos panamenhos foram repatriadas para o Brasil. Uma foi reunida com a mãe, e a outra foi identificada e está em um abrigo de São Paulo aguardando o pai, que está em Angola.

Lalo afirma que o maior desafio da reportagem foi acessar os locais específicos onde chegam os migrantes, no final da travessia da floresta. No último trecho, eles costumam cruzar o rio Tuqueza por meio de piráguas, canoas com capacidade para carregar em média 15 pessoas.

Além da cobertura fotográfica, Mayara ambém atribui a qualidade do produto final à cartografia produzida pelo infografista Gustavo Queirolo. A série conta com mapas de vários ângulos e regiões. A equipe da Folha foi consultada por jornalistas de veículos internacionais que mencionaram a qualidade da produção gráfica.

Mayara, hoje correspondente na América Latina, baseada em Buenos Aires, afirma que dezenas de migrantes com quem conversou citaram a então possível volta de Trump à Presidência dos EUA como motivo para cruzar o continente naquele período.

A previsão se concretizou. Ele tomou posse no início de 2025 para mais um mandato, e, no primeiro discurso, em janeiro, o presidente disse que os EUA sofriam de invasão de pessoas em situação ilegal e declarou emergência nacional na fronteira com o México. Em seguida, começou a deportar migrantes.

Apesar desse cenário, Mayara afirma que não existe um mundo sem migração. “A questão é como a gente faz fluxos ordenados, onde as pessoas não têm que morrer no mar, na terra ou no ar, para tentar chegar a algum lugar.”

Furo sobre ações de Moraes leva láurea de Reportagem Exclusiva

A Folha divulgou em agosto que o gabinete de Alexandre de Moraes no STF ordenou por mensagens e de forma não oficial a produção de relatórios pela Justiça Eleitoral para embasar decisões do próprio ministro contra bolsonaristas no inquérito das fake news durante e após as eleições de 2022.

O material com diálogos em áudios mostra como o setor de combate à desinformação do TSE foi usado como braço investigativo do gabinete do ministro no Supremo. O furo (jargão jornalístico para informação inédita) assinado por Fabio Serapião e Glenn Greenwald venceu a categoria Reportagem Exclusiva.

Na noite de sexta-feira, às vésperas do primeiro turno das eleições municipais em São Paulo, o então candidato Pablo Marçal (PRTB) divulgou em sua página no Instagram um laudo com a afirmação de que o candidato Guilherme Boulos (PSOL) teria testado positivo para cocaína.

Com a apuração de Ana Luiza Albuquerque, Bruno Xavier e Mônica Bergamo, a Folha conseguiu concluir ainda pela manhã que se tratava de um documento falso e expôs todo o desdobramento daquele episódio. A reportagem foi premiada na categoria Cobertura Quente.

Embora os sites de apostas anunciem que cerca de 93% do valor apostado volte, em média, ao conjunto de jogadores, os apostadores compulsivos tendem a perder tudo. No ano em que a regularização dessa modalidade esteve em discussão no Brasil, o jornal produziu uma reportagem detalhando a engenharia por trás do lucro das chamadas bets. O texto de Pedro S. Teixeira venceu a categoria Didatismo.

O cabo de guerra entre o ministro do STF Flávio Dino e o Congresso Nacional expôs como a aplicação de recursos públicos federais por meio de emendas parlamentares está mudando o jeito de fazer política no país.

O vídeo produzido pelo repórter Flávio Ferreira com a equipe do TV Folha explica como elas possibilitam aos congressistas enviar dinheiro para obras e entregas de produtos como máquinas, veículos e cisternas a suas bases eleitorais em busca da ampliação de seu capital político. O material venceu a categoria Audiovisual.

O REM-F (Ranking de Eficiência dos Municípios – Folha) venceu a categoria Serviço. A ferramenta criada pela Folha em conjunto com o Datafolha permite consultar quais prefeituras do Brasil entregam mais serviços básicos à população usando menor volume de recursos financeiros.

Produzido por Fernando Canzian e Renata Nunes Cesar, a plataforma leva em conta o atendimento das prefeituras nas áreas de saúde, educação e saneamento, tendo como determinante da eficiência da gestão a receita per capita da cidade.

A categoria Iniciativa Editorial foi vencida pela nova Folhinha, que passou a ter circulação mensal, sempre aos primeiros sábados de cada mês, com 16 páginas. O suplemento infantil ganhou mais conteúdo, em um formato ilustrado, com atividades interativas para as crianças. O projeto foi produzido por Guilherme Genestreti, João Montanaro, Luciana Coelho e Silvia Rodrigues.

Os premiados

GRANDE PRÊMIO

Darién, a selva da morte

Autores: Mayara Paixão e Lalo de Almeida

Coautores: Adriana Caccese de Mattos, Gustavo Queirolo, Edson Salles, Fabiano Vito, Irapuan Campos, Juliano Machado, Kleber Bonjoan, Otavio Valle e Rubens Alencar

Data de publicação: 3.mar.24

REPORTAGEM EXCLUSIVA

As mensagens secretas de Alexandre de Moraes

Autores: Fabio Serapião e Glenn Greenwald

Data de publicação: 13.ago.24

COBERTURA QUENTE

Desconstrução do laudo falso apresentado por Marçal contra Boulos

Autores: Ana Luiza Albuquerque, Bruno Xavier e Mônica Bergamo

Coautores: Artur Rodrigues, Carlos Petrocilo e Mariana Zylberkan

Data de publicação: 4.out.24

DIDATISMO

Entenda a matemática que faz maioria dos apostadores perder e bets lucrarem

Autor: Pedro S. Teixeira

Coautor: Tiago Cardoso

Data de publicação: 29.out.24

AUDIOVISUAL

Entenda o que são e como funcionam as emendas parlamentares

Autores: Flávio Ferreira e Nicollas Witzel

Coautor: Henrique Santana

Data de publicação: 30.set.24

SERVIÇO

Ranking de Eficiência dos Municípios – Folha (REM-F)

Autores: Fernando Canzian e Renata Nunes Cesar

Coautores: Kleber Bonjoan, Irapuan Campos, Rubens Alencar, Tiago Cardoso e Leonardo Cesar Ribeiro

Data de publicação: 9.set.24

INICIATIVA EDITORIAL

A nova Folhinha

Autores: Guilherme Genestreti, João Montanaro, Luciana Coelho e Silvia Rodrigues

Coautores: Marcio Freitas e Thea Severino

Data de publicação: 7.set.24

Os vencedores do Grande Prêmio

2023

“PF encontra na casa de ex-ministro minuta para Bolsonaro mudar resultado da eleição” (Poder), por Vinicius Sassine Camila Mattoso

2022

“Ministro da Educação diz priorizar amigos de pastor a pedido de Bolsonaro; ouça áudio” (Poder), por Paulo Saldaña

2021

“A revelação de que Pazuello negociou com intermediária de Coronavac pelo triplo do preço” (Poder), por Constança Rezende e Mateus Vargas

“Governo Bolsonaro distribuiu máscara imprópria, desviou cloroquina da malária e blindou hospitais militares” (Saúde), por Vinicius Sassine

2020

“O furo da demissão de Moro” (Poder), por Leandro Colon

2019

“Primeira Página – Beijo Gay” (Primeira Página), por José Henrique Mariante, Maicon Silva, Thea Severino e Manoella Smith

2018

“Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp” (Eleições), por Patrícia Campos Mello

2017

“Um Mundo de Muros – As barreiras que nos dividem” (Mundo), por Patrícia Campos Mello e Lalo de Almeida

2016

“Odebrecht fez obra em sítio ligado a Lula, diz fornecedora” (Poder), por Flávio Ferreira

2015

“Boyhood Bolsa Família” (Poder), por Fernando Canzian, André Felipe, Mario Kanno e Lucas Zimerman

2014

“Barbárie em Pedrinhas” (Cotidiano), por Eduardo Scolese, Juliana Coissi e Marlene Bergamo

2013

“A batalha de Belo Monte” (Ilustríssima), por Marcelo Leite, Mario Kanno, Douglas Lambert e Lalo de Almeida

2012

“Questões de ordem” (Poder), por Marcelo Coelho

2011

“O patrimônio e as consultorias que derrubaram Palocci” (Poder), por Andreza Matais, José Ernesto Credendio e Catia Seabra

2010

“Erenice usou estrutura do governo para beneficiar família e empresas” (Eleição 2010), por Andreza Matais, Rubens Valente, Fernanda Odilla e Filipe Coutinho

2009

“A fronteira da Guerra” (Mundo), por Igor Gielow

2008

“Série DNA Paulistano” (Caderno Especial), por Mariana Barros, Evandro Spinelli, Laura Salaberry e Samy Charanek

2007

“O preço de um vestido” (Dinheiro), por Antônio Gaudério

2006

“Caos penitenciário” (Cotidiano), por Laura Capriglione e Marlene Bergamo

2005

“Escândalo do mensalão” (Brasil), Renata Lo Prete

2004

“Agronegócio e pecuária de ponta usam trabalho escravo” (Brasil), por Elvira Lobato

2003

“Cobertura da Guerra do Iraque” (Mundo), por Sérgio Dávila e Juca Varella

2002

“Fraudes nos balanços da reforma agrária” (Brasil), por Eduardo Scolese e Rubens Valente

2001

“Paraíso fiscal bloqueia contas de Maluf” (Brasil), por Roberto Cosso

2000

“Conflito marca festa dos 500 anos” (Primeira Página), por Lula Marques

“O caixa-dois de FHC” (Brasil), por Andréa Michael e Wladimir Gramacho

1999

“Segredos do Poder” (Brasil), por Fernando Rodrigues e Elvira Lobato

1998

“Caderno Copa 98” (Caderno Especial), por Melchiades Filho

1997

“Mercado de voto” (Brasil), por Fernando Rodrigues

1996

Folha reencontra 17 meninos de rua depois de quase 6 anos” (Cotidiano), por Lalo de Almeida e Rogerio Wassermann

1995

Folha revela como empreiteiras e bancos financiaram o jogo eleitoral” (Caderno Especial), por Olímpio Cruz Neto, Marta Salomon, Lúcio Vaz, Gabriela Wolthers, Vivaldo de Souza e Gustavo Patu

1994

“Qualidade Total” (Caderno Especial), por Ricardo Gandour e Didiana Prata

1993

“Conexão Manágua” (Caderno Especial), por Fernando Rodrigues e Claudio Tognolli



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