Complexo de Israel cresce com ADPF de Favelas, diz polícia – 19/02/2025 – Cotidiano


Um relatório de inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma que o Complexo de Israel expandiu seus territórios para 36 ruas consideradas antes somente residenciais, sem a presença do tráfico, na zona norte carioca. Nelas há remoção constante de barricadas.

A expansão teria ocorrido, segundo a polícia, após a pandemia, quando houve a instauração da ADPF 635, medida conhecida como ADPF das Favelas, ação que questiona as operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro.

“Esse avanço foi diretamente influenciado pelas restrições operacionais impostas pela ADPF 635, que limitaram as ações policiais e permitiram a exploração criminosa dessas localidades”, diz trecho do documento obtido pela Folha.

O relatório foi realizado na última sexta (14), portanto, após o início do julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) da ação, no dia 5. Depois da fala do ministro relator do caso, Edson Fachin, a discussão foi suspensa.

Na ocasião, Fachin afirmou que é errado dizer que o tribunal é o responsável pelo avanço das facções criminosas no Rio de Janeiro, em resposta a declarações do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e do prefeito Eduardo Paes (PSD). Os dois têm acusado o Supremo de inibir a atuação policial com restrições a operações em comunidades do estado.

Segundo o levantamento da polícia, realizado por intermédio da compilação de boletins de ocorrências de moradores e retiradas de barricadas, “com a limitação da presença policial, o Complexo de Israel expandiu seu domínio para ruas e avenidas estratégicas, onde passou a impor seu controle territorial, instalando barricadas físicas e armadas, explorando serviços essenciais como internet e gás, além de estabelecer cobranças ilícitas e ampliar a influência do tráfico de drogas”.

“Essas ruas, antes sem histórico de domínio territorial pela facção Terceiro Comando Puro (TCP), agora encontram-se sob o controle criminoso do grupo”, diz outra parte.

Em uma dessas vias, um motorista de aplicativo foi abordado e revistado por suspeitos do tráfico, que impediram sua passagem. A ação foi filmada por uma câmera do veículo.

De acordo com a prefeitura, desde o ajuizamento da ADPF, em 2019, e 2024, o Disque Denúncia registrou 7.856 denúncias referentes a barricadas na cidade do Rio de Janeiro. A maior parte delas concentrada em bairros da zona norte.

A área que corresponde aos bairros de Brás de Pina, Cordovil, Jardim América, Olaria, Parada de Lucas, Penha, Penha Circular e Vigário Geral, bairros que englobam ou são limítrofes ao complexo de Israel, é a que apresenta o maior número em todo período: 1.978 registros desde junho de 2019.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que em 2024, removeu 7.700 toneladas de barricadas e desobstruiu 7.087 vias. Em 2025, até o momento, foram removidas cerca de 1.400 toneladas, sendo desobstruídas 580 vias. Mais de 80% das barricadas estão concentradas nos bairros analisados pelo Disque Denúncia.

Conforme a Folha noticiou em outubro, o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, foi o primeiro líder do tráfico a ser investigado por terrorismo. Na justificativa para a instauração da investigação, estava que “a referida facção tem como objetivo auferir lucros com as atividades criminosas praticadas no local, bem como impor uma dominação religiosa na localidade, impedindo que a população local tenha o direito de manifestar ideologia religiosa diversa da que o líder da facção é seguidor”.

No dia 12 deste mês, o traficante ordenou disparos contra um helicóptero da Polícia Civil e provocou um tiroteio que fechou duas das principais linhas expressas da cidade. Em outra operação no complexo, no dia 31 de janeiro, um capitão da PM foi morto com um tiro na cabeça.

Peixão é apontado como líder do Complexo de Israel, fundado por ele em 2021, durante a pandemia de Covid-19, segundo a polícia, aproveitando a ausência de operações policiais nas favelas. Ele não possui defesa.

Após tomar territórios do Comando Vermelho, ele uniu as comunidades com pontes, sendo a maior sobre o rio Pavuna. As obras facilitaram o deslocamento de seus comparsas, que se autodenominam Tropa do Arão —o nome que Peixão escolheu após se batizar como evangélico.

Boletins de ocorrência obtidos confirmam a exploração econômica e a expulsão de moradores com religiões diversas da evangélica.

Em Parada de Lucas, o traficante ergueu dois espaços de luxo. Em um deles, há um grafite de 10 metros de altura com a frase: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”. A mesma imagem conta com uma representação da favela e, ao fundo, o Domo da Rocha, local sagrado em Jerusalém. Em primeiro plano, homens vestindo uniformes militares com a bandeira de Israel.

Entenda a ação

A ADPF —Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental— é movida pelo PSB e corre no Supremo desde 2019. O partido argumenta que a política de segurança pública no Rio, “em vez de buscar prevenir mortes e conflitos armados, incentiva a letalidade da atuação dos órgãos policiais”.

Com base nisso, desde 2020, o STF concedeu decisões que ordenavam mudanças na estrutura das forças de segurança e em normas e procedimentos para uso da força policial, como a suspensão de grande parte das operações em favelas durante a pandemia de Covid-19.

Em seu voto, Fachin afirmou haver, na segurança pública do Rio, violação generalizada e sistemática de direitos. Ele sugeriu ao plenário medidas para conter excessos de operações policiais nas favelas do estado.

“Imputar problemas crônicos e de origem anterior à presente arguição a medidas impostas por esta Corte consiste não apenas em grave equívoco, mas em inverdade”, disse o relator.

O presidente da corte, Luís Roberto Barroso, afirmou que caso será retomado em outro momento para que o colegiado possa refletir a respeito das propostas de Fachin.



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