Caso Gabby Petito vira bom documentário na Netflix – 20/02/2025 – Luciana Coelho


Em 27 de agosto de 2021, Gabrielle Petito, uma mulher pequenina, sorridente e loira foi vista pela última vez. Ela tinha 22 anos e estava em uma longa viagem de trailer por parques no oeste dos Estados Unidos com o namorado, Brian Laundrie, um sujeito magro, calvo e introvertido um ano mais velho.

Os dois haviam ficado noivos um ano antes, e Gabby, como era conhecida, trocara a casa dos pais, no estado de Nova York, primeiro pela da família de Laundrie, na Flórida, e depois pela estrada. Ela desejava se tornar influencer de viagens e alimentava um canal no YouTube com a vida sem endereço. A gravação derradeira é de um supermercado e mostra o casal deixando a loja em uma cidadezinha de Wyoming.

Três semanas depois, o corpo de Gabby foi encontrado em um parque de seu roteiro após intensa procura promovida por sua família e pela polícia. A mídia e o público americano acompanharam o périplo diariamente.

É essa história, seu prólogo e seu epílogo, que está contada com competência na série documental

“Homicídio nos EUA: Gabby Petito”, que estreou na Netflix nesta semana. Não se trata da primeira produção sobre o caso. A passagem do tempo, contudo, permitiu aos diretores da nova série, Julia Willoughby Nason e Michael Gasparro, contarem com mais sobriedade jornalística o que aconteceu.

São três episódios, o primeiro relatando a vida de Gabby e o relacionamento do casal até o desaparecimento; o segundo a respeito do sumiço em si e o último com a busca e seus efeitos —o que inclui Brian chegar sozinho à casa dos pais, o corpo da noiva ser achado, ele sumir e ser encontrado morto.

A narrativa é conduzida por entrevistas com a família e amigos da vítima, policiais e testemunhas. O que impressiona, porém, é que grande parte do documentário foi montada com as imagens feitas pela própria Gabby e seu assassino, inclusive aquelas que não passaram pelo crivo de felicidade esperada e acabaram longe das redes sociais.

Mensagens enviadas por ela foram adicionadas ao filme com a recriação de sua voz por meio de inteligência artificial. Um episódio de violência entre os dois ocorrido duas semanas antes do crime é recontado por meio das imagens gravadas pela câmera corporal de um dos policiais que atendeu ao chamado, feito por um transeunte que viu o casal brigar.

Porque Gabby também havia agredido o noivo, não houve boletim de ocorrência, e é possível ver os três policiais tentando acalmá-la e a classificando como “muito ansiosa”, antes de pedirem que os dois passassem a noite separados, ela no acampamento e ele em um hotel para vítimas de abuso doméstico.

Cru, o episódio suscita questionamentos sobre o despreparo da sociedade para reconhecer abusos domésticos e tratar seus riscos com a devida seriedade.

O documentário também fala, en passant, sobre o fato de toda a mobilização midiática e policial em torno de Gabby dificilmente ocorrer quando a vítima não é branca, algo de início considerado inadequado por seus parentes, mas que, diante dos dados, se tornou uma campanha encampada também por eles.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve 1.463 feminicídios no Brasil em 2023 (dado mais novo), e 259 mil registros de agressão doméstica.

Gabby ilustra por que o número é subdimensionado.

Os três episódios de “Homicídio nos EUA: Gabby Petito” estão disponíveis na Netflix


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