Cid diz que grupo do ‘Punhal’ pediu localização de Moraes – 20/02/2025 – Poder


O tenente-coronel Mauro Cid disse em sua delação que militares pediram a ele a localização de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), um dia após terem abortado o plano de prender e matar o ministro, que à época presidia o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A declaração aparece em um dos vídeos liberados por Moraes nesta quinta-feira (20) com os depoimentos da colaboração de Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cid falou sobre o pedido em 21 de novembro de 2024, quando compareceu à sala de audiências do STF pressionado por pedido da Polícia Federal e parecer da PGR (Procuradoria-Geral da República) favorável à sua prisão por descumprimento dos termos do acordo.

Segundo ele, “uma coisa interessante sobre o monitoramento” é que a informação sobre a localização de Moraes “foi pedida por esse pessoal” no dia 16 de dezembro de 2022, um dia após o plano ser abortado.

“O pessoal queria saber por onde o senhor [Moraes] ia estar, e eu perguntei para o coronel [Marcelo] Câmara [ex-assessor de Bolsonaro]”, disse Cid.

“Eu não sei bem quem era o contato dele, inclusive uma informação que eu sei é que um dos contatos dele era um juiz, não sei dizer função, mas era um juiz do TSE. Era ele quem auxiliava as Forças Armadas a redigir os documentos que o general Paulo Sergio [Nogueira, então ministro da Defesa] encaminhava para o senhor.”

Cid disse a Moraes que não sabia o motivo do monitoramento. “Se eles iam tacar alguma coisa na casa do senhor como fizeram na casa da ministra [Cármen Lúcia, em 2018], ou fazer foguetório, ou… Eu não tinha esse nível de detalhamento e ciência, e nem quando ia acontecer, e se ia acontecer”.

Moraes respondeu: “Veja, eu estou conversando com um oficial do Exército que tem um treinamento, uma vivência sobre operações. O senhor foi procurado por dois coronéis que diziam que era necessário fazer uma operação, gerar caos, para que houvesse uma medida excepcional […] O senhor sabe que alguma coisa está em curso. Aí pedem a minha localização e o senhor não fez uma ligação em relação a isso?”

O militar afirmou, porém, que não perguntou sobre o monitoramento porque, segundo ele, sentiu que não queriam que ele se envolvesse.

O plano para matar Moraes se chamada “Punhal Verde Amarelo” e, segundo a PF, projetava o assassinato de Moraes e cogitava estender a ação a Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB). Havia detalhes sobre as etapas de ação, a necessidade de armamento com alto poderio bélico e a forma como os três seriam mortos.

A ação acabou cancelada no dia 15 de dezembro de 2022 por motivos não esclarecidos nas investigações —em um primeiro momento, foi citado o encerramento, antes do previsto, da sessão do STF que acontecia naquele dia. Em outro, a resistência do Alto Comando do Exército a aderir ao golpe.

O juiz mencionado por Cid como responsável por passar informações sobre Moraes é Sandro Nunes Vieira, que foi afastado pelo corregedor do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) Mauro Campbell Marques em novembro passado, após ser citado no relatório da corporação que indiciou Bolsonaro.

Cid fala que tempos depois da operação abortada houve novo pedido de monitoramento da localização de Moraes, dessa vez feito por Bolsonaro. Segundo o tenente-coronel, a intenção era saber se ele estaria se encontrando com o então vice-presidente Hamilton Mourão.

Na mesma audiência em que Cid informa a Moraes sobre o monitoramento, o ministro fez um longo preâmbulo alertando o colaborador sobre a possibilidade de prisão, de revogação da colaboração e de continuidade de investigações contra seus familiares caso não dissesse a verdade.

O tenente-coronel acabou mudando a sua versão em pontos capitais do caso e, ao final, viu a sua delação mantida e o pedido de prisão, retirado. Conforme documentos sobre a oitiva, investigações da PF com base em busca e apreensão mostravam elementos que colidiam com afirmações feitas até então por Cid.

Moraes começou assim a sua manifestação na reunião: “Nós vamos começar de forma bem direta, o que caracteriza o meu estilo”. Mais adiante, ele afirmou que aquela era a “última chance” de Cid dizer a verdade.

Nesse dia, o militar afirmou que uma reunião ocorrida em novembro de 2022 na casa do general Walter Braga Netto —que foi candidato a vice na tentativa de reeleição de Bolsonaro— tinha o objetivo de promover “caos social” para justificar intervenção das Forças Armadas para manter o presidente no poder.

Antes, dizia que a reunião era um mero encontro de integrantes da caserna que queriam tirar foto com Bolsonaro e Braga Netto.

Mauro Cid ainda mudou sua versão sobre a saída antecipada do encontro dos tenentes-coronéis Rafael de Oliveira e Helio Ferreira Lima com Braga Netto, em 12 de novembro de 2022. Nos primeiros depoimentos, disse que deixou a casa de Braga Netto porque precisava cumprir agenda no Palácio do Alvorada.

Diante de Moraes, porém, Cid declarou que foi Braga Netto quem pediu para ele deixar sua casa após os militares começarem a conspirar contra Lula. Segundo ele, o general negou a presença em reunião diante da proximidade do tenente-coronel com o ex-presidente.



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