Queda no lucro da Petrobras é alerta para uso político – 28/02/2025 – Opinião


A queda de 70,6% no lucro da Petrobras em 2024, para R$ 36,6 bilhões, preocupa a todos que se lembram da má gestão que quase levou a empresa à insolvência nos mandatos petistas anteriores.

No quarto trimestre do ano passado houve prejuízo de R$ 17 bilhões, invertendo o resultado positivo de R$ 31 bilhões observado no mesmo período de 2023. Felizmente, boa parte da piora é justificada por fatores pontuais ou de mercado, até aqui.

A diminuição da rentabilidade no trimestre final de 2024 se deu principalmente por conta da variação cambial, que afeta o endividamento e o resultado contábil de subsidiárias no exterior, sem representar saída de caixa. Houve também queda de 2,3% na cotação do petróleo no ano e menores margens no refino, da ordem de 40%, em linha com o que se observa no mercado em geral.

Por fim, a redução de 3% da produção de petróleo em 2024, para 2,7 milhões de barris por dia, se justifica por paradas de manutenção. Não há sinais claros de deterioração operacional.

A principal preocupação se dá nos investimentos, que somaram R$ 91 bilhões no ano passado, alta de 31% em relação a 2023. Em dólares, como a estatal normalmente divulga o indicador, o valor ficou 15% acima da projeção indicada anteriormente.

Tal discrepância foi justificada como temporária e reflexo de uma antecipação de pagamentos antes da execução efetiva para evitar atrasos aos fornecedores, mas gerou inquietação sobre se haverá aumento no plano de aportes nos próximos anos para seguir os desígnios do Planalto de utilizar a estatal como ferramenta para objetivos políticos.

No cômputo geral, a piora operacional e a alta dos investimentos reduziram a disponibilidade para pagamento de dividendos.

A empresa distribuiu R$ 9,1 bilhões no quarto trimestre, cerca de R$ 5 bilhões a menos que o esperado pelo mercado. No ano, o desembolso aprovado ficou em ainda respeitáveis R$ 75,8 bilhões, mas há duvidas quanto a reduções adicionais.

Daí a reação negativa dos detentores de papéis da empresa, que chegaram a derrubar o preço da ação em até 9% no dia seguinte ao anúncio. É objeto de debate se mais investimentos rentáveis no momento seriam preferíveis a maior remuneração ao acionista. Mas o ponto chave é justamente sobre os critérios de decisão.

O uso da companhia para alavancar a economia sem grandes preocupações com rentabilidade esteve na raiz dos problemas passados, quando uma sequência de desperdícios, regras de conteúdo local mal concebidas e corrupção legaram enorme endividamento, que no pior momento atingiu cerca de cinco vezes o resultado operacional da estatal.

Se a direção atual aceitar repetir a experiência, a empresa e o país somente colherão novos problemas. Felizmente, hoje o escrutínio social e dos órgãos de controle é maior, mas toda a vigilância é necessária.

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