Brasil bate recorde de vitimização de mulheres – 10/03/2025 – Cotidiano


Em sua 5ª edição, a pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, realizada pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), registrou a maior prevalência de mulheres que relatam ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses: 37,5%, o que corresponde, por projeção, a 21,4 milhões de mulheres.

Desde a primeira edição da pesquisa, em 2017, a proporção de agressões praticadas pelo marido, namorado ou companheiro mais que dobrou: foi de 19,4% para 40% dos casos.

O levantamento ouviu 1.040 entrevistadas com idades a partir de 16 anos em 126 municípios de pequeno, médio e grande porte de todo o país entre os dias 10 e 14 de fevereiro de 2025. Dessas, 793 responderam às questões específicas sobre vitimização, cuja margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos.

As mulheres vítimas de agressões relataram, em média, mais de três tipos diferentes de violência nos últimos 12 meses, o que evidencia não só a complexidade da violência contra a mulher mas também a recorrência das agressões enfrentadas.

Algumas foram foram alvo de insultos, humilhações e xingamentos (31,4%), outras de batidas, empurrões ou chutes (16,9%). Há aquelas que sofreram ameaças de apanhar, chutar ou empurrar (16,1%), perseguição ou amedrontamento (16,1%) e ofensa sexual ou tentativa forçada de ter relação sexual (10,4%).

Mulheres brasileiras também foram alvo de lesão provocada por objeto atirado (8,9%), espancamento ou tentativa de estrangulamento (7,8%), ameaça com faca ou arma de fogo (6,4%) e tiro ou esfaqueamento (1,4%). Esta última foi a única de todas as categorias que não apresentou aumento desde a última pesquisa, de 2023.

Mais da metade das mulheres (57%) relata que a violência ocorreu dentro de casa, enquanto 67% delas afirmam que as agressões foram praticadas pelo parceiro ou ex-parceiro íntimo.

Segundo Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum, há vários fatores que podem ter influenciado a alta da vitimização e as mudanças no perfil das agressões.

Ela cita com primeiro fator o aumento do reconhecimento do que é violência, tanto pelas mulheres como pelas instituições. “Houve uma mudança cultural que promoveu o debate público sobre o tema, que tem sido objeto de outras tipificações penais, como a Lei do Stalking [14.132/2021]. Isso pode influenciar na forma como as mulheres se reconhecem numa situação de violência que antes era naturalizada”, avalia.

A pandemia é outro fator que parece ter catalisado várias formas de violência para dentro das casas, seja com a mulher seja com crianças. Ao mesmo tempo, o desfinanciamento de políticas para mulheres tem retirado recursos humanos e financeiros cruciais para lidar com o problema.

“Estamos falando de políticas que dependem do acesso das mulheres à delegacia mas não tem nenhuma medida para incentivar essa mulher a procurar a delegacia ou para melhorar o atendimento de quem busca ajuda na polícia militar ou civil. Sem recursos humanos e financeiros, não tem milagre”, aponta.

A pesquisa aponta que a maior parcela de mulheres alvo de violência no último ano (47,4%) não procurou ajuda nem responsabilização depois de viver um episódio grave de agressão. Já 19,2% procuraram ajuda da família, 15,2% procuraram a ajuda de amigos, 14,2% foram a uma Delegacia da Mulher, enquanto 6% buscaram ajuda na igreja.

Por último, a diretora-executiva do Fórum cita o crescimento do extremismo violento e o avanço de uma pauta conservadora. “Há interdição do debate sobre gênero nas escolas, disseminação de canais redpills e afins que pregam discursos misóginos, machistas e violentos e legitimam práticas de violência contra as mulheres. Não podemos dissociar essa expansão de uma possível repercussão na vida doméstica das mulheres.”



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