Pé atrás com centrão força Lula a abrigar aliados

Por Francisco Costa e Thiago Borges

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito a reforma ministerial aos poucos – bem aos poucos. Da Saúde, tirou Nísia Trindade e colocou o petista Alexandre Padilha, que estava na pasta de Relações Institucionais. No lugar dele, a deputada federal pelo PT, Gleisi Hoffman, assumiu. Ao menos nesse começo, o petista decidiu privilegiar aliados, devido à incerteza com o centrão para 2026, conforme analistas.

Como mencionado, por enquanto, o centrão ainda não foi contemplado, mas quer mais espaço. O PSD hoje ocupa três ministérios, mas quer mais. Além disso, almeja uma pasta com orçamento melhor que a da Pesca, que hoje ocupa.

Outras legendas que já têm espaço são o Republicanos e o União Brasil. Contudo, nada disso é garantia de apoio para as eleições de 2026 – dele ou do sucessor. Hoje, os arranjos fazem mais sentido para garantir a governabilidade no Congresso.

Nesse sentido, acredita-se que aliados possam ser valorizados – assim como foi feito com Padilha e Gleisi. Duas ministras, conforme informações que circulam, podem ser trocadas. A primeira é Cida Gonçalves (Mulheres), alvo de denúncias de assédio moral na Comissão de Ética da Presidência, que arquivou as questões. A segunda é Luciana Santos, ministra de Ciência e Tecnologia.

O PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, pode ser contemplado, mas ainda está na mesa a possibilidade de agradar ao centrão. Um eventual apoio a Lula depende de como o petista vai chegar no próximo ano, uma vez que a popularidade dele segue em baixa.

Deputado federal pelo PT em Goiás, Rubens Otoni acredita que a medida é acertada. Para ele, as mudanças conseguirão ampliar a base de apoio do partido, além de valorizar quem já caminha com o governo. “Avalio que ele irá ampliar a base de apoio no Congresso e também para 2026, atraindo novos aliados e fortalecendo os atuais.” A visão não é amplamente compartilhada.

Equívoco

“Temos que olhar para essa reforma com alguns prismas. Alguns estudos mostram que um dos problemas nas coalizões se dá pelos grandes espaços serem ocupados pelo PT. Isso não gera alianças de longo prazo, só para não fazer oposição por oposição”, avalia o professor e cientista político Guilherme Carvalho.

Para ele, o presidente não consegue manter a adesão somente com a distribuição ministerial. Além disso, hoje a questão orçamentária [no caso de ministérios] não pesa tanto. “A reforma tende a surtir mais efeitos negativos do que positivos. Trocando PT por PT, ou indicada do centrão [Nísia] por PT.”

Guilherme também ressalta que as mudanças mandam um recado ruim para o centrão. “A tendência é de ampliação da desconfiança e o governo chegar enfraquecido para 2026. Não há nada garantido, mas o cenário é ruim. A reforma está sendo feita de uma forma açodada, sem levar em conta critérios objetivos de abastecer uma coalizão duradoura para promover as medidas que ele precisa para o país e medidas que deixam uma marca para o governo dele.”

Novos indicados

A nomeação de Padilha para o Ministério da Saúde visa melhorar a imagem da pasta na população, fortalecer o SUS e tocar adiante o programa Mais Especialistas. Este último é uma das bandeiras do governo Lula 3. O intuito é tornar mais acessíveis às consultas com especialistas.

Alexandre Padilha já esteve na pasta. No governo da presidente Dilma Rousseff, ele comandou o ministério de 2011 a 2014. Como mencionado, ele assume o lugar de Nísia Trindade, que deixou o cargo no fim de fevereiro, após fritura.

Já na pasta de Relações Institucionais, Gleisi é aposta para melhorar a articulação do governo com o Congresso. Padilha não tinha boa relação com o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas a informação é que Hoffman e Hugo Motta (Republicanos-PB), que comanda a Casa, têm um relacionamento cordial.

Para assumir a secretaria, a petista deixou a presidência nacional do PT. No lugar dela, que estava no cargo desde 2017, entrou o senador Humberto Costa (PT-PE) para o mandato-tampão de quatro meses, quando terá nova eleição.

Mas essas não foram as únicas mudanças de Lula no primeiro escalão. Destas, três foram para acomodar o centrão, com a inclusão de Celso Sabino (Turismo), André Fufuca (Esporte) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). Outras ocorreram devido a crises, como no Ministério de Direitos Humanos, por causa de denúncias contra Silvio almeida, e no Gabinete de Segurança Institucional, em decorrência do 8 de janeiro de 2023.

E, ainda, a troca de Flávio Dino da Justiça, pois se tornou ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Outra foi a mudança na secretaria de Comunicação Social. Saiu Paulo Pimenta e entrou Sidônio Palmeira.

Gleisi e Padilha alfinetam oposição em discurso de posse

A nova ministra empossada da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, tratou de inflamar a oposição ao governo federal em seu discurso de posse, na última segunda-feira, 10. Escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para substituir Alexandre Padilha, Hoffmann também acenou para os líderes do Congresso Nacional – já que, como chefe da SRI, é ela quem irá cuidar da relação do Executivo com o Legislativo. 

Prometendo dialogar com todos, Gleisi prometeu somar para uma “ampla coalizão”. “Chego para somar foi essa missão que recebi e pretendo cumprir em um governo de ampla coalizão. Dialogando com as forças políticas do Congresso e as expressões da sociedade, suas organizações e movimentos”. 

A ex-presidente do PT também declarou que sabe qual papel terá de cumprir. “Tenho plena consciência do meu papel que é da articulação política. Seremos capazes de reacender a esperança e atender às justas expectativas da população, o Brasil quer paz, justiça e uma vida melhor para todos e todas”. A ministra destacou que buscará uma “ação conjunta” com Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, e Davi Alcolumbre, presidente do Senado Federal, que estavam presentes na cerimônia de posse.  

Em seu discurso enaltecendo a democracia e reforçando sua intenção de construir alianças com os parlamentares, Gleisi também elogiou o Supremo Tribunal Federal (STF) na defesa da soberania nacional. “Quero aqui reconhecer o papel do ministro Alexandre de Moraes na defesa da democracia e, agora, da soberania nacional. Respeitamos e temos relações com todos, mas o Brasil é dos brasileiros e brasileiras”, garantiu. 

Descaracterizada do vermelho tradicional que a acompanhou nos anos de presidente do PT, Gleisi demonstrou um tom de articuladora em seu discurso. A nova ministra aparenta que em sua gestão na SRI, que irá buscar alianças para Lula e trabalhar para vencer a baixa popularidade do governo, a face militante será deixada de lado. 

Padilha, por sua vez, foi na esteira ao tomar posse como ministro da Saúde do Governo Lula. O mais novo integrante da pasta disse, em seu discurso de posse, que seu prinicpal objetivo, além de reduzir tempo de espera no SUS, é combater o negacionismo, em alusão à ‘cultura’ alimentada e associada, aos olhos da esquerda, ao bolsonarismo. (Especial para O Hoje)

Adicionar aos favoritos o Link permanente.