Lanchonete, Mercado e Mosteiro no Tibet

Pouca gente nasce em berço de ouro, mas enquanto uns aumentam a herança, outros perdem tudo e acabam pobres. Muita gente nasce pobre, mas enquanto uns batalham e têm sucesso na vida, outros morrem sem coisa alguma. Sorte? Azar? Normalmente é questão de competência, identificar oportunidades, tomar as decisões certas e trabalhar muito.

Melão Júnior viveu tempos difíceis. O pai faleceu e ele precisou abandonar os estudos para cuidar do mercadinho. Trabalhou até 15 horas por dia, mas transformou o pequeno negócio familiar na Rede de Mercados Melão & Cia. Se um cliente telefonasse, a secretária tinha ordens para interromper até cirurgia cerebral para ele atender a ligação.

Encantou-se com a moça do Caixa e saíram algumas vezes. Não era linda, mas no escuro, qualquer empada vira banquete. Dandara sumiu, mas um dia reapareceu com um bebê. Ela teve um casal de gêmeos, ficou com a menina e entregou o menino para ele criar. Melão propôs casamento, Dandara declinou, porém aceitou o dinheiro oferecido para ajudar nas despesas.

Melão Neto teve vida de príncipe e ótimas escolas, mas é tão nóia quanto pardal na quimioterapia. Disse que na escola só aprende coisas que nunca irá usar e entrou para um grupo esotérico de autoconhecimento. Má decisão. O pai sempre pensa na filha que não conheceu. Sem grana, sem boas escolas, como estaria se saindo?

Aos 60 anos, Melão Júnior conheceu Tara, tibetana cujo nome significa deusa da meditação. Ela é espiritualista, ritualista, doidinha, mas o faz feliz. Dividiu a fortuna com o filho, deixou-o no comando da Rede Melão & Cia e viajou ao Tibet com Tara, que o largou assim que lá chegou, para viver numa comunidade naturalista. Má decisão.

Decepcionado, Melão deu um giro antes de retornar ao Brasil e conheceu o Mosteiro Drirapuc, 5.072 metros acima do nível do mar. Encantou-se com o lugar, com a paisagem e com a filosofia. Após generosa doação, foi aceito como trainee de Monge. Comunicou a decisão ao filho e deu carta branca para ele tocar a Rede Melão & Cia.

A gestão do Mosteiro era péssima e Melão Jr. ofereceu sua experiência empresarial. Os Monges aceitaram, as coisas melhoraram: contas no azul, turistas, cursos e lojinha gerando ótima receita. O tempo passou, bateu a saudade e ele voltou ao Brasil para rever o filho. Estaria casado? Melão Júnior seria avô? Grande expectativa!

Chegou em casa de surpresa e ficou surpreso. Conheceu a nora Shiva e 4 hippies que lá vivem, além de oito crianças nascidas de união coletiva e ninguém sabe quem é pai de quem. Na Melão & Cia, a surpresa foi ainda maior. O filho implantou jornada 3 X 4 (3 dias de trabalho, podendo ser remoto, com 4 de folga), fim da meritocracia, muitos benefícios, estrutura horizontal e espaço para Pets dos empregados: cães, gatos, bodes, cobras Píton, araras, tartarugas e uma iguana. Má decisão.

Melão Neto introduziu cotas, cultura Woke, contabilidade criativa e outras bossas que nunca deram certo. O pai quis ver o balanço, os contratos e pediu reunião com a diretoria, que tem artesãos no Jurídico, rappers no Marketing e sentenciados na Contabilidade, que só aparecem nas saidinhas. Com a Rede quase falindo, Melão Jr. expulsou os hippies da empresa e de sua casa, retomou as rédeas do negócio e mandou o filho para o Tibet para aprender com os Monges.

Saiu para espairecer, entrou numa lanchonete e viu Dandara no Caixa. Não é possível que, após 28 anos, não tenha uma ruga! Mas a verdadeira Dandara logo surgiu. Ela é dona do negócio e a gerente é sua filha, a filha que Melão não conhecia.

Dandara contou que, com a grana recebida, montou uma lanchonete para trabalhar e criar a filha. A jovem cresceu, assumiu a gestão e logo vai abrir a quarta filial. O segredo? Planejamento, trabalho duro, satisfação do cliente, zero desperdício, inovação e metas de produtividade. Boa decisão. Melão  deu à filha sua parte e o comando da Melão & Cia. A Rede voltou a crescer. Ótima decisão.

Feliz, Melão Jr. levou Dandara, agora sua esposa, para conhecer o Tibet. Visitou o Mosteiro e viu que tudo mudou sob a influência de Melão Neto. O prédio agora abriga hippies, nóias e animais exóticos. Má decisão. Os Monges debandaram, ou foram parar no hospício, ou cometeram suicídio coletivo. Na fachada, viu a faixa “Passa-se o ponto” e no lugar da lojinha, uma filial do Oxxo.

Tempos difíceis forjam pessoas fortes. Pessoas fortes geram tempos fáceis. Tempos fáceis criam pessoas fracas e pessoas fracas geram tempos difíceis. Uns trabalham duro e se garantem. Outros preferem bolsas, vales, assistência e benefícios. Depois reclamam que Deus não ajuda.

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