PL de Bolsonaro pode ser abandonado na luta pela anistia

Após meses de diálogos, e uma manifestação temática, o projeto de lei que prevê a anistia dos condenados de 8 de janeiro deve enfim tramitar no Congresso a partir das próximas semanas, segundo sinalizou o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ). Contudo, a cruzada “moral” que prometia “pacificar” a população pode na verdade perder o embalo e até desagradar boa parte dos brasileiros e futuros eleitores de Jair Bolsonaro (PL) ou seu possível sucessor Tarcísio de Freitas (Republicanos). 

De acordo com a pesquisa do instituto Poderdata, do grupo Poder360, 51% dos mais de dois mil entrevistados são contra a proposta, enquanto apenas 37% são a favor. Outro dado relevante é a desaprovação do tema entre os entrevistados que votaram no ex-presidente nas eleições de 2022, que correspondem a 49%, ao mesmo tempo que a aprovação da proposta é de apenas 36%, um ponto a menos que o apoio por eleitores de Luiz Inácio Lula (PT). Contudo, eleitores que não votaram em nenhum dos dois são os que mais aprovam o projeto com 43% de apoio, o mesmo valor que a rejeição da matéria, mostrando uma possível inclinação para o campo de Bolsonaro dos indecisos em 2022.

Quando analisada essa pesquisa com outros indícios, como a manifestação temática miúda no último domingo (16) junto ao cancelamento de outros eventos e levantamentos similares ao do Poderdata, se tem um cenário onde a própria população brasileira pode ser uma resistência à pauta. A medida disso, a cientista política Rejaine Pessoa avalia que a pesquisa mostra uma falta de clareza quanto ao tema por apontar que 12% dos entrevistados desconhecem o assunto por não saber opinar sobre. “[Quando] você vê que 12% não souberam responder, esse 12% é um número elevado porque ele é um assunto amplo e deveria ser de fácil entendimento”, aponta. 

Em seguida, a cientista política afirma que a resistência do projeto pode se dar por uma batalha de interesses pessoais pela aprovação do projeto, sobretudo de Bolsonaro, que pode ganhar uma blindagem jurídica por perdoar as pessoas com conexão aos atos do 8 de janeiro. Por isso, revela que há uma desconexão com o interesse do coletivo por trás da proposta.  

Quando indagada sobre a influência de eventos anteriores sobre a população, como a denúncia do ex-mandatário e o atentado com explosivos no Congresso, Rejaine avalia que a tramitação da pauta foi afetada devido à situação que era incluída. A especialista lembra que a discussão da pauta era postergada quando ocorrem eventos que abalaram a direita bolsonarista. 

Tramitação truncada

Apesar do apelo da ala bolsonarista, Rejaine aponta dois fatores que podem dificultar o andamento do texto nas Casas. Segundo aponta, vê que há movimentos contrários dos presidentes Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para adquirir espaços na presidência. Com isso, aponta que a introdução da pauta pode desgastar a relação dos dois poderes pela radicalização política.  

Além disso, avalia que partidos do Centrão não devem aglutinar com o PL em um momento em que a oposição tem muito o que oferecer, enquanto o governo possui cargos nos ministérios que ainda estão em aberto. Além desse alinhamento, aponta como a lei de 2021 que institui o crime de Tentativa de Golpe de Estado , aprovada pelo ex-presidente, não prevê a anistia para o crime para adequar dentro dos preceitos da constituição.

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