Governo Trump: Musk pode lucrar bilhões através da SpaceX – 24/03/2025 – Mercado


Dentro do Departamento de Defesa do governo Donald Trump, os foguetes da SpaceX de Elon Musk estão sendo promovidos como a forma mais engenhosa do Pentágono mover rapidamente cargas militares ao redor do mundo.

No Departamento de Comércio, o serviço de internet via satélite Starlink da SpaceX agora será elegível para o investimento de US$ 42 bilhões (R$ 240 bilhões) do governo federal para expandir a banda larga na área rural. Antes, a tecnologia foi esnobada durante a administração de Joe Biden.

Na Nasa, após repetidos incentivos de Musk, a agência está sendo pressionada a focar em Marte, permitindo que a SpaceX busque contratos federais para levar os primeiros humanos para lá.

Musk, como arquiteto de um grupo que ele chamou de Doge (Departamento de Eficiência Governamental, na sigla em inglês), tem desmantelado o aparato governamental, gerando caos e temor ao demitir cerca de 100 mil trabalhadores federais e fechar várias agências, apesar de o governo não ter explicado a extensão do poder do tal órgão consultivo de forma coerente.

Ainda assim, em pontos de interesse dentro da administração pública, a SpaceX busca posições para garantir bilhões de dólares em novos contratos federais ou outros apoios, disseram uma dúzia de atuais e ex-funcionários federais em entrevistas ao The New York Times.

O aumento nos gastos federais para a SpaceX virá em parte como resultado de ações do presidente Trump e dos aliados e funcionários de Musk que agora ocupam cargos no governo. A empresa também se beneficiará de políticas da atual administração que priorizam a contratação de fornecedores comerciais de tecnologia aeroespacial para tudo, desde sistemas de comunicação até fabricação de satélites —áreas hoje sob domínio da SpaceX.

Alguns funcionários da SpaceX, trabalhando temporariamente na FAA (Administração Federal de Aviação), receberam permissão oficial para tomar medidas que poderiam direcionar contratações de serviços para a empresa de Musk.

Esses contratos em todo o governo incluem os bilhões de dólares em novos negócios que a SpaceX poderia arrecadar, se garantir permissão da administração Trump para usar mais áreas e infraestrutura de propriedade federal.

A SpaceX tem pelo menos quatro pedidos pendentes com a FAA e o Pentágono para construir novas plataformas de lançamento de foguetes ou para lançar com mais frequência de portos espaciais federais na Flórida e na Califórnia. A tramitação de um desses acordos avançou rumo à aprovação pela FAA neste mês —isso mais que dobraria o número anual de lançamentos do foguete Falcon 9 da SpaceX permitidos na Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida, para 120.

A SpaceX também está pressionando a FCC (Comissão Federal de Comunicações) por mais frequência de rádio —o serviço de satélite Starlink depende disso para enviar sinais de ida e volta para a Terra, o que significa que, se conseguir mais, pode aumentar seus lucros—, um movimento que a concorrência vê como tomada de poder. O primeiro desses prêmios foi aprovado este mês, após Trump substituir o chefe da FCC por Brendan Carr, que fez sinalizações públicas de apoio a Musk.

A potencial nova fonte de receita para a empresa de Musk vem depois que ele doou quase US$ 300 milhões (R$ 1,7 bilhão) para apoiar a campanha eleitoral de 2024 de Trump. Musk, então, persuadiu Trump a colocá-lo no comando do esforço de corte de custos. A partir daí, como funcionário e conselheiro da Casa Branca, ele pode influenciar políticas e eliminar contratos.

“As chances de Elon conseguir o que quer são muito maiores hoje”, disse Blair Levin, um ex-funcionário da FCC que se tornou analista de mercado. “Ele está na Casa Branca e em Mar-a-Lago. Ninguém jamais antecipou que um concorrente da indústria teria acesso a esses tipos de alavancas de poder.”

Executivos da SpaceX não responderam a pedidos de comentário.

Karoline Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, disse em um comunicado que Musk, como funcionário especial do governo, recebeu briefings sobre limites éticos, incluindo aqueles relacionados a conflitos de interesse, e cumpriria todas as leis federais aplicáveis.

A SpaceX já havia se tornado um dos maiores contratantes federais do país antes do início da segunda administração Trump, garantindo US$ 3,8 bilhões (R$ 21 bilhões) em compromissos para o ano fiscal de 2024, distribuídos por 344 contratos diferentes, de acordo com uma apuração do The New York Times em um banco de dados de contratos federais.

Mesmo que Trump nunca tivesse dado a Musk e seus funcionários um papel no governo —ou se o ex-presidente Joe Biden tivesse sido eleito para um segundo mandato— a SpaceX teria continuado a garantir novos trabalhos do governo. O que mudou é o valor geral do trabalho esperado para ser entregue à SpaceX.

Douglas Loverro, um ex-funcionário sênior da Nasa e do Pentágono que também serviu como conselheiro da equipe de transição de Trump em questões espaciais, disse que a SpaceX merecia ganhar muitos desses contratos adicionais.

“Ele tem a melhor tecnologia”, disse Loverro sobre Musk. “Tudo isso elevará a indústria espacial como um todo, obviamente —mas certamente ajudará ainda mais a SpaceX.”

Outros especialistas em contratos governamentais dizem que continuam preocupados que Musk esteja a caminho de receber tratamento especial, particularmente depois que Trump demitiu funcionários encarregados de investigar violações éticas e potenciais conflitos de interesse.

“Nunca saberemos se a SpaceX ganharia autenticamente competições por esses prêmios porque todos os escritórios do governo destinados a prevenir corrupção e conflitos de interesse foram decapitados ou desfinanciados”, disse Danielle Brian, diretora executiva do Projeto de Supervisão Governamental, um grupo sem fins lucrativos que rastreia contratos federais.

“O abuso de poder e a corrupção que estão se espalhando por agências federais porque os papéis duplos de Musk são horríveis”, disse ela.

ASCENSÃO DO PENTÁGONO

Mesmo antes do retorno de Trump, a SpaceX vinha trabalhando nos bastidores por vários anos para expandir seus negócios com o Pentágono e agências de inteligência.

Ela contrataria ex-oficiais militares que então voltariam ao Departamento de Defesa para incentivar ex-associados e amigos a comprar mais serviços da SpaceX.

Gary Henry, um ex-supervisor de programas espaciais e de mísseis da Força Aérea, estava entre eles. Ele se juntou à SpaceX enquanto a empresa desenvolvia a Starship, a maior e mais poderosa espaçonave já construída.

Durante o mandato de Henry na SpaceX, a empresa garantiu um contrato de US$ 102 milhões (R$ 584 milhões) da Força Aérea para estudar como a Starship poderia entregar carga militar a pontos ao redor do mundo em 90 minutos. Atualmente, essa tarefa é realizada principalmente com os aviões de carga C-130 da Força Aérea, que levam grande parte de um dia para a viagem.

A SpaceX ainda está tendo problemas para tornar a Starship operacional. Os dois voos de teste mais recentes resultaram em explosões que despejaram destroços sobre o Caribe.

No entanto, Henry —agora de volta ao trabalho para o Pentágono como consultor— está promovendo a Starship como uma opção para os militares.

No mês passado, enquanto falava em nome do Pentágono em uma conferência da indústria de satélites na Califórnia, ele descreveu como a Starship poderia ser usada durante a administração Trump para entregar uma peça importante de equipamento militar “a qualquer ponto do planeta muito rapidamente.”

Algumas semanas depois, a Força Aérea divulgou planos para construir uma plataforma de pouso de foguetes no Atol Johnston, uma pequena ilha no Oceano Pacífico, para testar esses pousos de navios de carga. O objetivo inicial do Pentágono: mover 100 toneladas de carga por voo, um total que apenas a Starship, pelo menos de acordo com seu design, tem o poder e o tamanho para lidar.

“É frustrante”, disse Erik Daehler, vice-presidente da Sierra Space, que também quer vender serviços de carga para o Pentágono. “As coisas não podem simplesmente só ir para a SpaceX.”

Steve Butow, diretor do portfólio espacial na Unidade de Inovação em Defesa do Pentágono, quando questionado pelo New York Times sobre os comentários públicos de Henry em nome da agência para um projeto no qual ele havia trabalhado como funcionário da SpaceX, disse: “A perspectiva foi infeliz.”

Henry, em uma entrevista, disse que a nação se beneficiaria das ferramentas que a SpaceX e outras empresas espaciais comerciais, como a Rocket Lab, oferecem.

“O espaço comercial em geral é muito relevante para os problemas que precisamos resolver”, disse ele. “Acontece que a SpaceX está na liderança —é a ponta da lança.”

Um impulso ainda maior para a SpaceX é provável, disseram atuais e ex-funcionários do Pentágono, através de um projeto de defesa antimísseis chamado Domo Dourado.

Para esse projeto, Trump ordenou que o Pentágono rapidamente descobrisse como derrubar mísseis nucleares direcionados aos Estados Unidos, bem como ataques de mísseis de cruzeiro e hipersônicos de voo mais baixo —o projeto pode custar US$ 100 bilhões (R$ 572 bilhões) anualmente, de acordo com uma estimativa.

A SpaceX já está posicionada para lidar com uma grande parte dos trabalhos de lançamento militar do Pentágono nos próximos anos, juntamente com a Blue Origin de Jeff Bezos e a United Launch Alliance, um consórcio administrado pela Lockheed Martin e Boeing.



Domo Dourado é um nome bastante apropriado, pois certamente vai custar muito dinheiro

Um sistema de defesa antimísseis instalado no espaço aumentaria ainda mais os gastos com lançamentos, já que o governo precisaria comprar mais dispositivos para rastrear ameaças de mísseis e transmitir os dados para direcioná-los, serviços que a SpaceX também fornece.

Ann Stefanek, porta-voz da Força Aérea, disse em um comunicado que a Força Espacial aderiria a todas as leis e regulamentos para garantir parcerias éticas e eficazes, que geralmente exigem licitações competitivas para novos contratos.

Mas observadores da indústria disseram que a SpaceX quase certamente garantirá uma grande parte desse novo mercado.

Laura Grego, pesquisadora sênior da organização sem fins lucrativos Union of Concerned Scientists, disse: “Domo Dourado é um nome bastante apropriado, pois certamente vai custar muito dinheiro.”

NASA RUMO A MARTE

O indicado de Trump para dirigir a Nasa, Jared Isaacman, é um empresário bilionário e entusiasta da corrida espacial. Ele pagou à SpaceX centenas de milhões de dólares para voar —duas vezes— em órbita a bordo de um foguete.

Mais importante, sua empresa de processamento de pagamentos, Shift4 Payments, comprou uma participação na SpaceX há vários anos, um investimento que gerou US$ 25 milhões (R$ 143 milhões) em ganhos nos últimos anos, efetivamente tornando-o parceiro de negócios de Musk.

Um executivo da Shift4 afirmou que a participação da empresa na SpaceX foi recentemente vendida. Em documentos de ética divulgados este mês, Isaacman prometeu cortar quaisquer laços financeiros restantes que tivesse com a SpaceX.

Se confirmado, Isaacman se juntará a Michael Altenhofen, que em fevereiro foi nomeado conselheiro sênior da Nasa após 15 anos na SpaceX.

A Nasa já pagou à SpaceX mais dinheiro do que até mesmo o Pentágono: um total de US$ 13 bilhões (R$ 74,4 bilhões) em compromissos contratuais na última década. Esses acordos incluem a contratação da SpaceX para entregar carga e astronautas em órbita e enviar as maiores e mais caras sondas da Nasa para o universo.

No mês passado, a Nasa concedeu à SpaceX um contrato estimado em US$ 100 milhões (R$ 572,4 milhões) para lançar um novo telescópio espacial que buscará asteroides que possam ameaçar a Terra.

Isso é apenas uma pequena parte de quanto dinheiro adicional a SpaceX poderia garantir da agência no segundo mandato de Trump.

Ex-funcionários da Nasa preveem que Isaacman rapidamente pressionará para reformular o projeto Artemis da agência espacial, que pretende devolver astronautas dos EUA à Lua. Esse movimento pode gerar resistência —já que o programa tem muitos aliados no Congresso.

Atualmente, a Boeing possui um dos principais contratos para construir os foguetes para o Artemis. Mas Loverro e outros ex-funcionários da agência disseram esperar que o governo derrube aos poucos o projeto por trás desse foguete, já que há um atraso de anos e um gasto de bilhões de dólares que já superarou o orçamento.

Isso permitirá que a NASA recorra a empresas espaciais comerciais como SpaceX ou Blue Origin para levar astronautas à órbita para futuras missões à lua ou até mesmo a Marte.

Musk se gabou este mês de que a SpaceX lançaria uma Starship não tripulada para Marte até o final de 2026 e depois enviaria os primeiros humanos para lá talvez em 2029 —um esforço que ele provavelmente pressionará a Nasa a ajudar a financiar.

Executivos da Boeing e da Blue Origin recusaram pedidos de comentário.

A SpaceX “quase com certeza verá novos acordos vultuosos”, disse Pamela Melroy, uma astronauta aposentada e oficial da Força Aérea que atuou como administradora adjunta da Nasa durante o governo Biden. “Todos os indicadores para a SpaceX pendem positivamente.”



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