Base na Groenlândia é uma das mais importantes para EUA – 26/03/2025 – Mundo


Antigamente chamada de Base Aérea de Thule, agora conhecida como Base Espacial Pituffik, a instalação operada pelos Estados Unidos no noroeste da Groenlândia é um dos locais militares mais importantes estrategicamente do mundo —mesmo que a maioria dos americanos nunca tenha ouvido falar dela.

“É literalmente o olho mais remoto da defesa americana”, disse Peter Ernstved Rasmussen, um analista de defesa dinamarquês. “Pituffik é onde os EUA podem detectar um lançamento, calcular a trajetória e ativar seus sistemas de defesa de mísseis. É insubstituível.

O posto avançado agora chama a atenção, pois o presidente Donald Trump, que prometeu tornar a Groenlândia parte dos EUA, enviará uma delegação de alto nível para a ilha nesta semana. Os visitantes incluirão o vice-presidente J. D. Vance, que falou em visitar “nossos guardiões” quando estiver lá.

Cerca de 150 membros da Força Aérea e da Força Espacial dos EUA estão permanentemente estacionados em Pituffik (pronuncia-se Bee-doo-FEEK). Eles lidam com defesa antimísseis e vigilância espacial, e o chamado Radar de Alerta Antecipado pode detectar mísseis balísticos em seus primeiros momentos de voo.

A cada verão no hemisfério Norte, cerca de 70 membros da Guarda Aérea Nacional de Nova York voam para Pituffik para dar suporte a missões científicas. Usando a única aeronave equipada com esquis dos EUA, a LC-130, pesquisadores e suprimentos chegam aos acampamentos na camada de gelo.

História

A presença militar dos EUA na Groenlândia começou durante a Segunda Guerra Mundial, quando a região era uma colônia dinamarquesa. Depois que a Alemanha nazista ocupou a Dinamarca em 1940, a Groenlândia ficou subitamente isolada e indefesa. Os Estados Unidos fecharam um acordo discreto com o embaixador da Dinamarca em Washington —ignorando o governo controlado pelos alemães em Copenhague— para que as tropas dos EUA construíssem campos de aviação e estações meteorológicas na ilha.

Em 1941, as forças dos EUA desembarcaram, montando defesas e examinando o Atlântico Norte em busca de submarinos alemães. Uma década depois, a Dinamarca e os EUA formalizaram o acordo com um tratado de defesa, concedendo a Washington amplos direitos para operar instalações militares na ilha. A Groenlândia agora é uma parte semiautônoma da Dinamarca, que, como os EUA, é membro da Otan

Durante a Guerra Fria, Thule se tornou um importante posto avançado no Ártico. Dali, bombardeiros americanos de longo alcance podiam alcançar a União Soviética, e enormes sistemas de radar foram construídos para detectar mísseis cruzando a rota polar —o caminho mais curto entre as duas superpotências.

Um dos experimentos mais estranhos da época foi o Camp Century, uma base de energia nuclear construída sob o gelo no final dos anos 1950 como parte de um projeto secreto chamado Iceworm. O plano era testar se mísseis nucleares poderiam ser escondidos e lançados por baixo da superfície.

“Foi a ambição da Guerra Fria no seu auge”, disse Rasmussen. “Eles construíram uma base de energia nuclear em um dos ambientes mais hostis da Terra só para ver se isso poderia ser feito.”

O gelo se mostrou muito instável, e a base foi abandonada. Mas os resíduos —incluindo material radioativo e diesel— ainda estão enterrados, e cientistas alertam que o aumento das temperaturas pode eventualmente expô-los.

A base também deixou uma marca duradoura na população indígena da Groenlândia. Em 1953, cerca de 130 inuits foram realocados à força de suas casas perto de Thule para um assentamento mais ao norte, pouco adequado para a caça tradicional. A compensação veio décadas depois, mas o ressentimento permanece.

O nome da base mudou há dois anos de Thule para Pituffik, que significa em groenlandês “o lugar onde amarramos nossos cães”.

Localização

Pituffik fica acima do paralelo 76 na costa noroeste da Groenlândia, a cerca de 1.200 km do Polo Norte. É uma das instalações militares mais remotas da Terra.

O assentamento mais próximo, Qaanaaq, fica a 110 km de distância e abriga menos de 650 pessoas. Muitos caçam focas, morsas e, ocasionalmente, ursos polares para sobreviver.

No inverno, o sol desaparece por semanas, e as temperaturas caem abaixo de -34ºC. Apesar das condições, o campo de pouso de Pituffik funciona o ano todo. Os navios podem chegar à base apenas durante uma janela estreita de verão, quando o gelo marinho recua temporariamente.

Tecnologia da base

Pituffik faz parte de uma rede global de infraestrutura de defesa dos EUA e é uma estação crucial. Especialistas militares dizem que, à medida que novas ameaças, como mísseis hipersônicos, surgem, os sistemas de alerta em Pituffik são indispensáveis.

“Mísseis hipersônicos não vão para o espaço; eles voam baixo, manobram e não temos como interceptá-los depois que são lançados”, explicou Troy J. Bouffard, um funcionário aposentado do Exército dos EUA e especialista em defesa do Ártico. “Isso torna o alerta precoce mais importante do que nunca —e é aí que Pituffik entra.”

Se um míssil fosse lançado da Rússia ou da China em direção à América do Norte, Bouffard disse que provavelmente passaria pelo Ártico. Os sensores terrestres de Pituffik são cruciais nesse caso, disse, porque os satélites não funcionam bem em altas latitudes.

Segundo Bouffard, os lasers tampouco funcionam no Ártico. “As colunas de ar estão cheias de cristais de gelo —basicamente, pequenos espelhos— e lasers e espelhos não se dão bem.”

Ele vê o papel de Pituffik se expandindo além do radar. “A base também pode servir como uma unidade de preparação avançada ou uma linha-chave de comunicação”, disse. “Quanto mais avançados esses locais forem, mais úteis eles serão.”



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