Mau humor político e economia fragilizada marcam cenário para 2026

Bruno Goulart

O cenário político para as eleições de 2026 começa a se desenhar sob o signo do descontentamento popular, segundo a mais recente pesquisa Pulso Brasil, do Ipespe, e a análise do cientista político Lehninger Mota ao O HOJE. Os números revelam um eleitorado crítico: apenas 41% aprovam o governo Lula (PT), enquanto 54% reprovam – um reflexo direto da insatisfação com a economia, reprovada por 58% dos entrevistados. O estudo, realizado entre 20 e 25 de março com 2,5 mil pessoas em todo o país (margem de erro de 2 pontos percentuais), mostra ainda que nenhum nome político emerge com forte aprovação para uma eventual disputa presidencial.

“Bom presidente”

Quando questionados sobre quem seria um “bom presidente”, os entrevistados demonstraram ceticismo: Lula tem 40% de avaliação positiva, contra 57% negativa. Outros possíveis candidatos também enfrentam resistência: Tarcísio de Freitas (Republicanos) (35% positivos), Fernando Haddad (PT) (33%), Eduardo Bolsonaro (PL) (30%) e Ronaldo Caiado (UB) (16%) aparecem com índices modestos.

Leia mais: Hugo Motta frustra bolsonaristas ao se aproximar do Planalto

Para Lehninger Mota, esses números refletem um “mau humor generalizado” da população, não apenas com o governo federal, mas com a classe política como um todo. “Há uma desconfiança estrutural. Mesmo figuras com boa avaliação em seus estados, como Tarcísio e Caiado, não conseguem projetar otimismo em nível nacional”, observa.

Economia como fator decisivo

O cientista político destaca que o desgaste do governo Lula está diretamente ligado à percepção negativa da economia, especialmente em um contexto de inflação e perda de poder de compra. “Quando as pessoas sentem no bolso, tendem a rejeitar o status quo”, explica Mota. No entanto, ele ressalta que o cenário pode mudar até 2026: “Se houver uma melhora concreta – queda da inflação, emprego em alta –, a narrativa pode se alterar. O eleitor vota em perspectiva, não apenas no presente”. A pesquisa mostra que, mesmo com a atual reprovação, Lula se sai melhor em cenários eleitorais hipotéticos, sugerindo que, diante de opções polarizadas, os eleitores podem optar pelo “menos pior”.

Bolsonaro, Trump e o humor político global

O estudo também traz dados sobre as expectativas em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro: 66% acreditam que ele será condenado nos processos judiciais, e 58% acham que ficará inelegível em 2026. Além disso, a avaliação do governo Donald Trump divide os brasileiros: 39% aprovam, contra 54% que reprovam. Para Mota, isso reforça um fenômeno global de desencanto com as lideranças tradicionais. “Não é um problema apenas do Brasil. Em vários países, a insatisfação com a política cresce quando a economia não vai bem”, afirma.

O que pode mudar até 2026?

Apesar do cenário desfavorável, Mota aponta que o governo tem tempo para reverter a situação, desde que consiga comunicar melhor suas conquistas e, principalmente, apresentar resultados econômicos tangíveis. “O eleitor médio não acompanha indicadores macroeconômicos, mas percebe se o preço da comida baixou ou se o salário rende mais”, diz. Ele também sugere que o desgaste não é exclusivo de Lula, citando a baixa avaliação de outras lideranças, como Simone Tebet (MDB), vista como “pior que Lula” por parte dos entrevistados. 28% acreditam que ela seria uma boa presidente, enquanto 60% reprovam. Para Lehninger, Tebet surpreendeu bastante durante a campanha eleitoral. “Teve uma boa oratória, uma boa conduta e, mesmo assim, as pessoas acham que seria uma presidente ruim e até pior do que o próprio Lula. Portanto, ele destaca que há um desafio duplo: resolver os problemas e convencer as pessoas de que estão sendo resolvidos. “Só assim o humor político pode melhorar até a eleição”, concluiu.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.