Como Marcos Sá Corrêa achou a Brother Sam – 29/03/2025 – Elio Gaspari


A livraria do Senado relança amanhã o livro “1964, visto e comentado pela Casa Branca”, do repórter Marcos Sá Corrêa. Ele se baseia nos documentos e textos de suas reportagens, publicadas, em 1977, pelo Jornal do Brasil, em três edições sucessivas. Sá Corrêa tinha 30 anos quando embarcou para os Estados Unidos às cegas, com três pistas:

(1) Em 1967, um ex-marinheiro americano havia contado numa entrevista que, em março de 1964, o navio onde servia recebeu ordens para se deslocar em direção ao Brasil; (2) Um oficial da reserva da Marinha brasileira que havia vivido nos Estados Unidos tinha visto um telegrama militar americano datado de abril de 1964, listando, entre os destinatários, o comandante de uma “Cincstrike”, e havia comentado: “Isso se refere a uma força-tarefa militar”. (3) A terceira pista dava conta de que no arquivo de documentos do ex-presidente Lyndon Johnson, em Austin, no Texas, haviam aparecido papéis referentes à crise brasileira de março/abril de 1964.

Sá Corrêa passou uma semana em Austin, xerocando centenas de telegramas e relatórios diplomáticos ou militares. Aqueles eram tempos bicudos, e o ministro do Exército, Sílvio Frota, estava em curso de colisão com o presidente Ernesto Geisel. Falando pouco de seus achados, soltou uma palavra: “porta-aviões”.

Ele tinha batido na “Operação Brother Sam”. No dia 31 de março de 1964, ela mandou para o Brasil uma força naval com seis contratorpedeiros, capitaneada pelo porta-aviões Forrestal. Foram desviados também quatro petroleiros que transportavam combustíveis. O jornalista copiou novamente as centenas de documentos e deixou o acervo em Nova York. Prevenia-se contra uma inspeção na alfândega.

Quando o repórter chegou ao Rio de Janeiro com as caixas da papelada, o general Silvio Frota havia sido demitido. Dias depois, o Brasil foi surpreendido pelas revelações. De lá para cá, a documentação americana sobre 1964 trouxe algumas novidades, nenhuma do tamanho da Operação Brother Sam, com seu porta-aviões. O navio onde estava o marinheiro da entrevista de 1967 e o Forrestal deram meia-volta no dia 3 de abril. João Goulart estava a caminho do Uruguai e o governo americano havia reconhecido a nova ordem.

O livro de Marcos Sá Corrêa está à venda na Livraria do Senado e, como é praxe, sua versão eletrônica está disponível, de graça.


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