Kate Winslet vive modelo que vira correspondente de guerra – 30/03/2025 – Cinema e Séries


São Paulo

Lee Miller (1907-1977) foi várias mulheres. Nascida nos Estados Unidos, ela morou em Paris. Estudou design, fez teatro experimental. Como modelo, foi capa da revista Vogue, a Bíblia da moda. Casou-se com um empresário rico, que levou para morar no Egito, e depois com um pintor, com quem se mudou para Londres. No fim da vida, aprendeu a cozinhar e se formou no Cordon Bleu.

No entanto, Lee ficou conhecida mesmo como fotógrafa, em particular por ser uma das poucas mulheres a documentar os horrores da Segunda Guerra Mundial. É essa faceta que é explorada no filme “Lee”, estrelado por Kate Winslet e que entrou direto no streaming no Brasil (está disponível no Prime Video).

“Ela viveu tantas vidas que seria impossível contar tudo”, avalia a atriz em bate-papo por videoconferência com o F5. “Teria sido muito tentador cobrir todos os aspectos da vida de Lee. Eram tantos capítulos diferentes… E ela continuava se reinventando. Ela simplesmente se arriscava e fazia coisas diferentes.”

A ideia do filme partiu da própria Kate, que já conhecia o trabalho da fotógrafa. “Quase não consigo me lembrar de uma época em que não sabia quem Lee era”, diz ela, que lembra ter ido a uma exposição de fotos da artista em 2001 e de ter comprado a biografia dela em um sebo de Nova York.

Foi em 2015, no entanto, que ela resolveu que queria interpretá-la. Procurou o filho da fotógrafa, Antony Penrose, para trocar ideias. “Descobri que ele morava a apenas 90 minutos da minha casa”, comenta, animada. “Eu não podia acreditar nisso.”

Penrose, que cresceu sem saber da história da mãe e só descobriu boa parte de sua obra após a morte dela em caixas no sótão de casa, abriu todo o acervo para que Kate pudesse fazer suas pesquisas. Ele também compartilhou escritos, cartas e até diários de Lee. “Começamos a construir essa confiança e formar essa amizade”, agradece ela.

Segundo Kate, os dois foram aprendendo juntos algumas coisas; ela, sempre que podia, dava sua perspectiva feminina. Como quando ele se questionou sobre por que ela usava lenços no pescoço durante a guerra. “Ele dizia: ‘Talvez fosse apenas uma questão de moda’. Eu dizia: ‘Não, Antony, é porque a câmera era pesada, então a alça teria cortado o pescoço dela. Claro que ela usava um lenço para proteger o pescoço’. E ele dizia: ‘Ah, nunca pensei nisso’.”

Foram sete anos de pesquisa até ela se sentir pronta para começar a rodar o filme, para o qual se cercou de pessoas de confiança, como a estreante Ellen Kuras, com quem havia em “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. Kuras foi diretora de fotografia do longa de Michel Gondry.

Mesmo assim, continuou envolvida com cada detalhe do projeto, inclusive no financiamento que garantiria que ele saísse do papel. Em determinados momentos, chegou a tirar dinheiro do próprio bolso para que a obra continuasse sendo realizada.

“É cinema independente, fazemos esse tipo de coisa o tempo todo”, minimiza. “Quando você se compromete a fazer um filme, você também está se comprometendo com muitas pessoas. E você não pode decepcionar essas pessoas. Então, sim, você simplesmente vai lá e faz.”

Nas cenas, ela diz que se deixou levar pelas emoções que as fotografias produzidas pela fotógrafa lhe despertavam. “Fomos guiados pelas imagens dela”, diz Kate, que foi indicada ao Globo de Ouro pelo papel (ela perdeu para Fernanda Torres por “Ainda Estou Aqui”).

“Eu a estudei, conhecia suas fotografias tão bem…”, prossegue. “Uma vez que entendi como ela capturou cada imagem, pude então inventar minha própria narrativa em torno de cada detalhe das circunstâncias em que ela esteve para capturar aquele momento.”

Entre as atrocidades que as lentes de Lee capturaram durante a guerra, estão os estragos causados pelo napalm, que os americanos testaram na libertação de Saint-Malo, na França, e os horrores inimagináveis deixados nos campos de concentração de Buchenwald e Dachau, na Alemanha. Em uma das cenas do filme, ela entra em um vagão de trem com corpos empilhados para documentar as atrocidades cometidas pelo nazismo mais de perto.

Kate diz de ter ficado impressionada com a descrição que Lee fez do odor do local e empenhou-se em examinar esse sentido durante sua interpretação —por mais que o audiovisual (ainda) não tenha cheiro. “Tentei construir todas essas coisas que sabíamos que ela tinha experimentado”, comenta. “Você tem que deixar a si próprio fora da sala e apenas fazer o trabalho. E foi o que fizemos. Foi realmente difícil.”

Outro momento mostrado no filme é quando a fotógrafa posa nua para o amigo David E. Scherman, que também era correspondente de guerra e no filme é vivido por um contido Andy Samberg, na banheira da casa de Hitler em Munique. Era sua forma particular de zombar do führer.

Porém, para a atriz, é quando estava por trás das câmeras que Lee realmente se mostrava. “Lee tinha essa maneira muito particular de nos fazer sentir que estava em cada imagem”, avalia. “Você a sente ali, sente sua empatia, e essa é a força dela. Isso transparece em todas as suas imagens.”

Após esse mergulho profundo na personagem, o que Kate enxerga quando olha para a obra de sua retratada? “Ela tinha a capacidade de não necessariamente aceitar tudo pelo valor de face, mas de olhar para as coisas de uma maneira completamente diferente da que outras pessoas olhariam”, afirma. “E também de estar constantemente ciente, presente, desafiando a si mesma e correndo riscos.”

“E isso é apenas parte de quem ela era”, completa.



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