Saiu da Guiana rumo aos EUA, mas fez a vida no Brasil – 30/03/2025 – Cotidiano


Esmond Ignatius Jeffrey fugiu da pobreza, da instabilidade política e da repressão da Guiana em busca de um futuro diferente.

Tinha os Estados Unidos como destino, onde já havia passado uma temporada como missionário da Igreja Metodista. Voltou à Guiana por questões internas da família, e não conseguiu retornar ao país da América do Norte.

“Ele tentou ir pela Argentina, tentou outras rotas, mas havia a questão da ditadura militar na América Latina como um todo e ele não conseguiu. Isso foi um fator determinante para que ele ficasse no Brasil”, diz a filha, Debora Cristina Jeffrey, diretora da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

A partir de 1970, estabeleceu-se no Brasil. Mas havia problemas com a documentação e a não aceitação de estrangeiros em plena ditadura militar. Isso fez com que ele trabalhasse na construção civil e contasse com a ajuda de igrejas cristãs para se alimentar, dormir e trabalhar, segundo a filha.

Esmond chegou a São Paulo entre 1972 e 1973. Trabalhou como pedreiro e chegou a ser mestre de obras. Autodidata, aprendeu português sozinho e também a ler cartografias para auxiliar os engenheiros. Tinha formação técnica em química e trabalhou na indústria de vacinas.

Conheceu a primeira esposa na capital paulista e casaram-se em 1975, em Campinas, interior de São Paulo. Tiveram a filha Debora em 1977. A separação ocorreu dois anos depois.

Nessa época, ele resolveu tirar do papel um desejo antigo. Mesmo sem recursos financeiros, fundou o Instituto London de Inglês, em 1979, para ensinar o idioma.

Ainda sem a sede, ele dava aulas em uma biblioteca. Além das aulas, planejava e estruturava o material pedagógico.

“Ele formou muita gente. Deu aula para muitos negros e negras de Campinas que integravam o MNU (Movimento Negro Unificado). Muita gente teve formação de inglês com ele. A escola era lugar de encontro, de referência para muita gente”, conta Debora. A escola funcionou até poucos dias antes de sua morte.

Jeffrey era entusiasta da educação e sabia que a chave para a transformação e valorização do negro na sociedade passava por esse caminho. Ter passado pelos Estados Unidos, com a experiência da segregação e a luta pela independência da Guiana também tiveram peso nisso.

Ainda que a família não tivesse posses, com o apoio da ex-mulher, auxiliar de enfermagem no Hospital das Clínicas da Unicamp, Debora estudou desde sempre em um colégio particular, dos mais conceituados da cidade. Seu irmão Michael, filho de Jeffrey com a segunda mulher, nascido em 1982, estudou em um tradicional externato de Campinas. Todos os esforços eram para que os dois tivessem boa formação.

Jeffrey nasceu na Guiana em 9 de novembro de 1949, tinha 12 irmãos, e foi criado pela avó. O professor morreu em Campinas, aos 75 anos, em 28 de fevereiro. Deixou os filhos Debora e Michael, a esposa Maisa, e três netos.

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