Uso de telas antes de dormir agrava bruxismo em pessoas autistas

No Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, especialista aponta cuidados especiais necessários com os dentes desses pacientes e dá dicas para ajudá-los na higiene bucal

Em 2 de abril, celebra-se o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, uma iniciativa da ONU para aumentar a visibilidade do TEA (Transtorno do Espectro Autista) e defender os direitos das pessoas autistas. Além de promover a inclusão e o respeito, a data é uma oportunidade para desmistificar preconceitos, disseminar conhecimento científico e incentivar debates sobre a qualidade de vida no espectro autista.

“Uma excelente oportunidade para mostrarmos o que pode ser feito para melhorar a saúde bucal dessas pessoas”, destaca a Dra. Monique Pimentel, Secretária de saúde do município de Paracambi (RJ) e fundadora da Clínica Dra. Monique Pimentel. “Por terem uma alta sensibilidade a estímulos sensoriais, o cuidado com dentes, língua e gengiva pode ser um desafio para os responsáveis e para a própria pessoa”, detalha. “Eles podem ter dificuldade para cuspir, manter a boca aberta e sentir a mão do adulto no próprio rosto”.

A Dra. Monique aponta que algumas dificuldades podem ser mais intensas nas pessoas com TEA. “Eles têm uma propensão a ter hiperatividade cerebral. Então um hábito como o de usar telas antes de dormir atrapalha o relaxamento. E se os últimos conteúdos que consumirem forem agitados, ou mesmo agressivos, como em jogos ou alguns desenhos animados mais violentos, a tendência é que fiquem com essa inquietação ainda mais aguçada nas primeiras quatro horas de sono e a consequência é bruxismo”, detalha.

Além dessa questão, a especialista alerta para a dificuldade em fazer a higienização da boca no dia a dia. “Colocar algo na boca é algo muito íntimo e invasivo, então no caso dessas crianças, os pais podem enfrentar resistência à escova e ao fio dental. A saída é fazer com que eles entendam o que está acontecendo”.

Ela lista dicas de como fazer isso:

1 – Explicar como cada instrumental vai ser utilizado.

2 – Deixá-los tocar, sentir a textura e a composição de cada um.

3 – O pai ou mãe também podem começar mostrando primeiro como eles mesmos escovam os próprios dentes e depois escovando os dos filhos.

4 – Usar escovas com cabeça pequena, cerdas macias e cabo longo, para ter mais acesso sem tocar tanto nas laterais e céu da boca.

5 – Deixar de lado cremes dentais com sabor; “pode parecer uma boa ideia para deixar o momento mais gostoso, mas a criança pode começar a ‘comer’ o produto, atrapalhando o processo”, segundo a dra. Monique.

Procedimentos similares são adotados pela Dra. Monique nas consultas. “Em primeiro lugar, não deixamos que a criança fique aguardando na sala de espera, para evitar ansiedade. Depois, deixamos alguns estímulos mais suaves, como a iluminação da sala de atendimento e a luz direcionada da cadeira. E explicamos cada etapa, cada processo, dando ordens simples e diretas, como pedir primeiro para a criança sentar, depois para abrir a boca. Temos também um kit de instrumentos extra (tirando, claro, o que é cortante ou afiado), para que o paciente segure nas mãos e saiba exatamente como é enquanto usamos um deles em sua boca. Uma outra ação interessante que o profissional pode adotar é colocar o responsável na cadeira e fazer o atendimento primeiro nele, mostrando como tudo é feito e narrando cada etapa”.

Os cuidados são importantes pois algumas questões de saúde oral podem ter impacto maior nessa população. “Muitos deles têm seletividade alimentar, preferindo alimentos ricos em carboidratos, ou com bastante açúcar. Isso somado a outras características, como a tendência a supercrescimento das gengivas e hipoplasia de esmalte (esmalte poroso, que ‘esfarela’), mais a má higienização é um cenário que leva a acúmulo de resíduos, gerando cáries, gengivite e periodontite”, finaliza a Dra. Monique.

Com o apoio de familiares, profissionais capacitados e a conscientização da comunidade, é possível criar um ambiente mais acolhedor e inclusivo, garantindo qualidade de vida e bem-estar para todos.

Sobre Dra. Monique Pimentel

Dra. Monique Pimentel é dentista, especialista em ortodontia e ortopedia dos maxilares, fundadora do Instituto de Odontologia Monique Pimentel e Secretária de saúde do município de Paracambi (RJ). Promotora e incentivadora da odontologia integrativa, dedica sua carreira a ampliar o acesso à odontologia de qualidade e a conscientizar sobre a importância da saúde oral na qualidade de vida. Monique é formada em Odontologia pela Universidade São José, em Farmácia pela Universidade de Vassouras, além de ter especialização em ortodontia e ortopedia dos maxilares pelo Centro de Atendimento Ortodôntico. Também fez Residência em ortodontia digital e alinhadores pelo Instituto Eduardo Prado e Invisalign.

Autora:

Mariana Paker

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