Documentos revelam ligações do príncipe Andrew com suposto espião chinês

Os vínculos do príncipe Andrew com um suposto espião chinês foram detalhados em documentos divulgados na sexta-feira (4) pelos tribunais britânicos, incluindo uma declaração de um ex-assessor próximo ao príncipe sobre a linha de comunicação do duque com o presidente chinês Xi Jinping.

A declaração de 10 páginas de Dominique Hampshire, feita em maio de 2024, faz parte de um conjunto de documentos liberados pelos tribunais após a solicitação de várias organizações de mídia britânicas sobre o relacionamento do príncipe Andrew com o suposto espião, Yang Tengbo. Os documentos são parte do recurso de Yang contra sua exclusão do Reino Unido (medida que impede a entrada de uma pessoa em solo britânico) em dezembro, o qual ele perdeu.

Yang teria estabelecido uma relação próxima com o príncipe e foi co-fundador da Pitch@Palace China, que expandiu a iniciativa Pitch@Palace do duque para a China.

Em uma audiência do tribunal em dezembro que manteve a decisão anterior de barrar Yang do Reino Unido, foi revelado que ele estava autorizado a agir em nome do príncipe Andrew durante reuniões de negócios com potenciais investidores chineses no Reino Unido.

A ex-secretária do Interior Suella Braverman disse ao parlamento em dezembro que tomou a decisão de banir Yang do Reino Unido “porque sua presença representava uma ameaça à nossa segurança nacional” e foi “baseada no conselho do MI5”, a agência de segurança doméstica do Reino Unido.

Yang negou qualquer irregularidade.

Hampshire também disse que Yang ajudou o príncipe Andrew a redigir cartas para o líder chinês Xi Jinping discutindo o Fundo Eurásia, algo que Yang havia descrito em seu depoimento ao tribunal como uma forma de “transformar” a iniciativa Pitch@Palace do duque “em um negócio de investimento, ou um fundo”. Ele também foi encarregado de conversar com “pessoas relevantes” na China, segundo a agência de notícias britânica PA.

“A Família Real, incluindo a falecida rainha (Elizabeth II), estava totalmente ciente desta comunicação – era certamente aceita e pode-se dizer que até era encorajada – era um canal aberto de comunicação útil de se ter”, disse Hampshire na declaração.

Hampshire disse que se reuniu duas vezes com o príncipe Andrew e o Rei Charles nos seis meses anteriores a seu depoimento para discutir “o que o duque pode fazer daqui para frente de uma maneira que seja aceitável para Sua Majestade”. Essas conversas incluíram discussões sobre o Fundo Eurásia, segundo a PA.

O Palácio de Buckingham disse na sexta-feira que o Rei Charles se reuniu com o príncipe Andrew junto com Hampshire ao longo do último ano para discutir propostas de financiamento independente, mas Yang nunca foi mencionado.

O relacionamento entre o príncipe e Yang começou logo após a desastrosa entrevista do duque à BBC em 2019 sobre seu relacionamento com o criminoso sexual Jeffrey Epstein, que Hampshire disse ter levado à sua crença de que a reputação do príncipe era “irrecuperável”.

“Este era um sentimento comum dentro da Família Real, apesar do que o duque pensava que poderia acontecer. Era muito claro internamente que teríamos que procurar opções para o futuro do duque longe dos deveres reais”, disse Hampshire em seu depoimento, segundo a agência de notícias britânica PA.

De acordo com a PA, Hampshire também disse que nunca viu “algo de errado” com Yang (que também usava o nome Chris), e enfatizou que Yang “categoricamente não tem um relacionamento próximo com o duque”.

“Chris, é claro, não tem o número de telefone do duque ou seu endereço de e-mail e não consegue falar diretamente com o duque por conta própria – nunca. Esta é uma prática normal e o relacionamento de Chris com o duque é o mesmo que muitos outros”, disse ele, segundo a PA.

Ele também disse que Andrew “cumpriu totalmente” com o conselho de encerrar todo contato com Yang.

Hampshire disse em uma declaração separada na sexta-feira que deixou a casa real em 2022 e não fornece mais conselhos a Andrew, segundo a PA.