Foi uma das grandes guardiãs do Samba de Bumbo de Campinas – 05/04/2025 – Cotidiano


Ernestina Estevam, ou dona Tina, como era chamada, conheceu o Samba de Bumbo ainda no berço, por meio de seu pai. A manifestação da cultura afro-brasileira que mistura dança, poesia e religião, surgiu no século 19, nas fazendas de café no interior de São Paulo, e está na tradição de sua família há gerações.

Seu pai, o Mestre Estevam Ernesto, era um dos tocadores em Campinas.

“Meu bisavô fazia o Samba de Bumbo, reunia os tocadores, os devotos de São Benedito, fazia festas em casa, aniversários, casamentos. Ela cresceu vendo ele tocar e construindo esse legado. Então o Samba de Bumbo está na família dela desde sempre”, diz a neta, a professora Poliana Sales Estevam, 27.

Mestre Estevam também tocava nos antigos bailes que aconteciam no clubes negros da cidade, lugares também usados como ferramentas de combate ao racismo numa cidade que não oferecia quase nenhum espaço para que os moradores negros realizassem suas atividades sociais.

Filha de pai taxista e mãe costureira, dona Tina tinha dois irmãos. Era a filha do meio. Nasceu em 3 de março de 1931 e cresceu no Cambuí, bairro de alto padrão na região central, mas que na época era ocupado por muita gente da população negra, com remanescentes de fazendas e cortiços que foram depois empurrados para a periferia.

Conforme foi amadurecendo, foi assumindo mais ainda o protagonismo da manifestação cultural da família.

“Com o passar dos anos ela foi se tornando a referência, o nosso ponto de memória. A nossa fonte da nossa tradição mesmo, a nossa raiz”, afirma a neta.

Sua atuação no Samba de Bumbo a deixou conhecida no circuito de manifestações culturais em Campinas e região.

Além de seu papel na cultura, dona Tina trabalhou como alta-costureira e também foi inspetora de alunos na PUC (Pontifícia Universidade Católica) Campinas de 1973 a 2001.

Era uma pessoa calma, observadora, e adorava estar com as pessoas, interagir.

“Ela sempre foi uma pessoa muito quieta, mas sempre precisa nas palavras dela. Muito brincalhona também, gostava de conversar com o pessoal, saber da vida. Ela era muito serena, mas também gostava de estar no meio do pessoal, ser comunicativa”, conta Poliana.

Também por conta da tradição familiar, gostava sempre da troca.

“Ela gostava de gente, de estar rodeada de pessoas, da família. Gostava de relembrar os momentos da vida dela e passar a história adiante”, explica a neta.

Morreu em 31 de março, em Campinas, aos 94 anos. Teve um filho, Alceu, já falecido. Deixa duas netas, um neto e uma bisneta de pouco mais de 1 ano.

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