Foi estancada a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia sido detectada pelo Datafolha no início de fevereiro. Mas, de acordo com a pesquisa do instituto que foi a campo nesta primeira semana de abril, não há motivo para comemoração nas hostes situacionistas.
A cada 100 entrevistados, 38 consideram que Lula faz um governo ruim ou péssimo (ante 41 na rodada anterior), 29 avaliam como ótima ou boa a sua administração (24 em fevereiro) e os mesmos 32 entendem que o seu desempenho é regular. O quadro pouco variou, considerada a margem de dois pontos de erro.
Questionados diretamente sobre se aprovam ou desaprovam a gestão petista, os brasileiros se dividem em duas metades iguais. A expectativa em relação ao restante do mandato presidencial é menos otimista e mais pessimista do que há um ano.
A terceira passagem de Lula pelo Palácio do Planalto distingue-se qualitativamente por alguns fatores das suas duas primeiras, na década retrasada. O vento de cauda da economia internacional não bate mais. Pelo contrário, entra-se agora num período de insegurança sobre o comércio e a divisão do trabalho globais como não ocorria há muitas décadas.
Em 2003 o presidente neófito teve o bom senso de poupar recursos orçamentários no início do governo. Em 2023, na verdade ainda antes da posse, um político experiente afundou o pé no acelerador da despesa e agora tem pouca margem para contra-arrestar os efeitos colaterais de sua opção, sob a forma de carestia da comida e juros asfixiantes.
Os poderes presidenciais foram solapados pela hipertrofia do Legislativo na execução das verbas discricionárias e pelo lauto financiamento estatal dos partidos. Além disso, a oposição ao incumbente ganhou musculatura. No Brasil e em outras democracias, é mais raro que se governe sob larga aprovação popular.
A resultante desses vetores torna mais incerta a trajetória do presidente brasileiro até a eleição de outubro do ano que vem. Lula aparece na dianteira na pesquisa de intenções de voto, embora a sua folga para os segundos colocados não seja tão dilatada quanto era nesse momento de 2021.
Seu adversário mais forte, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), está inabilitado para a disputa, mas não faltarão pleiteantes, hoje ainda relativamente pouco conhecidos dos eleitores em nível nacional, para rivalizar com o petista pela preferência majoritária.
O torneio que se descortina será um plebiscito sobre este mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Com poucos cartuchos para queimar e acossado por um tumulto econômico e geopolítico internacional, o presidente pode apostar em mais do mesmo —paternalismo, populismo, gastança— para tentar melhorar a sua condição.
Pode, alternativamente, tentar se conectar com o Brasil moderno —empreendedor, austero e maduro. Dessa escolha dependerão suas chances de reeleger-se.
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