Trump acelera sua montanha-russa diante de um mundo atônito – 05/04/2025 – Alexandra Moraes – Ombudsman


Em apenas duas semanas, a já movimentada montanha-russa da cobertura do governo Donald Trump se acelerou de maneira brutal. Primeiro com a história de um jornalista da The Atlantic adicionado a um grupo de mensagens da Defesa dos EUA. Depois, o presidente diz que “não está brincando” a respeito de buscar um terceiro mandato, apesar do veto constitucional. Em seguida, ele impõe ao mundo seu tarifaço a partir de um tabelão gigante, à moda dos cheques de programa de auditório.

Vale notar que o Brasil é tão adiantado em maluquices político-econômicas que tem um nome como “tarifaço” para dar a medida do que está sendo discutido.

As palavras, e o que elas carregam, importam. O repórter de economia do The New York Times Ben Casselman, que fazia a cobertura do anúncio do tarifaço ao vivo, notou como era complicado transmitir todo o absurdo que se passava: “Não sei se eu consigo expressar o quanto esse discurso é atípico como um meio para anunciar medidas importantes. Repórteres, investidores e economistas franziam para as imagens da tabela que Trump segurava, tentando entender o que aquilo significava para a política comercial”.

Se para quem acompanha mais de perto é complicado traduzir o que o movimento tem de surreal, desvelar a guerra tarifária deflagrada por outro país é um desafio ainda maior. As consequências para o Brasil ainda não estão todas claras, e os comentários de que os 10% que couberam ao país parecem não ser tão maus são quase sussurrados, diante da incerteza generalizada.

Quem eventualmente se divertia com memes do “Taxadd” uns meses atrás emudeceu diante da ofensiva antiliberal de Trump. Além da imprevisibilidade das medidas e de sua ainda desconhecida extensão (para nem falar em desfecho, porque o governo Trump já deixou claro que é uma “obra aberta” igual a novela brasileira), a troca de sinais ideológicos confunde e complica as explicações.

Em vídeo recente, o ex-presidente americano Barack Obama tenta dar outra medida do absurdo, convidando a plateia a pensar no que ocorreria se fosse ele o autor dos desmandos de Trump. “Imaginem se eu tivesse feito isso.” O público ri, Obama continua sério. “É inimaginável que os mesmos partidos que estão calados agora teriam tolerado um comportamento como esse de mim ou de vários de meus antecessores.”

Um leitor, Domingos Sávio de Campos, escreve preocupado com a cobertura que a Folha faz do governo Trump e de seus desdobramentos, “tanto em termos da política norte-americana quanto no que se refere aos processos geopolíticos”. “Não se trata de afirmar que a cobertura da Folha é insuficiente na apresentação dos fatos. Neste sentido, o jornal vem cumprindo razoavelmente a missão”, pondera ele, que cobra “matérias mais analíticas”.

“Com exceção de alguns textos na Ilustríssima e artigos de Lúcia Guimarães e Demétrio Magnoli, o acompanhamento da Folha vem sendo superficial. Trump, neste momento, dá início, por assim dizer, ‘oficial’ à estratégia de buscar um terceiro mandato, seguindo a cartilha dos autocratas que admira, Putin sobretudo. Este jornal vai tratar a questão com mais cuidado ou ficará, novamente, somente no noticiário superficial?”, questiona Campos.

Não há respostas fáceis, porém, nem parece ser um problema só da Folha. Trump é um bully e age como tal. Para o mandatário, o choque é parte da estratégia. Ainda assim, é preciso buscar recursos mais eficientes para contar a história que se desenrola diante de um mundo atônito.

A cobertura de assuntos internacionais no Brasil passa necessariamente por muito do que a mídia estrangeira publica. A Folha tem acordos para republicar gigantes como The New York Times, The Washington Post e Financial Times –e eles são caros. Além disso, esse conteúdo também está nos concorrentes.

Esses veículos carregam também suas próprias crises. As mais recentes se referem ao Washington Post, submetido à decisão de publicar artigos de convidados apenas quando não destoassem da visão do dono do jornal e da Amazon, Jeff Bezos. O periódico também vive uma reestruturação editorial e viu alguns dos seus maiores nomes irem embora decepcionados.

A questão é que veículos de porte médio (para os padrões americanos), como as revistas The Atlantic, que deu o megafuro do chat da Defesa, e Wired têm feito um trabalho denso e menos óbvio que pouco alcança o leitor brasileiro. Republicá-los também não sai barato, mas renovar as fontes seria um diferencial positivo para o jornal e principalmente para quem o assina.


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