Símbolo de sublimação, a polêmica Maria Madalena ressurge para o século XXI
Após a reconstrução dos rostos de várias personalidades – como a Virgem Maria, a Mona Lisa, e de Francisco e Clara de Assis -, o acadêmico e designer Átila Soares da Costa Filho recorre novamente à IA, análises sobre relíquias e conceitos da Antropologia para revelar como teria sido Maria Madalena, a mais notória e controversa dentre todos os seguidores de Jesus de Nazaré.
Os suportes históricos mais “confiáveis” seriam os próprios evangelhos canônicos que, apesar de citarem-na 12 ou 13 vezes (dependendo da metodologia histórico-literária), em absolutamente nada informam sobre suas características fisionômicas, físicas ou idade. As controvérsias em torno da identidade de “Miriam” já começam sobre seu próprio local de origem: provavelmente oriunda da aldeia de Magdala (“torre” em aramaico), na Galileia, mas há quem aposte numa vila de Bethania na Cisjordânia. Fato é que esta discípula do Messias passou para a História de forma determinante ainda que, em boa parte, entrelaçada em questões lendárias e de forte teor esotérico.
A reconstrução.
As fontes para esta nova reconstrução foram o suposto crânio da santa, preservado na Basílica Saint-Maximin-la-Sainte-Baume (região da Provença Alpes-Costa Azul), e, sobretudo, um aprofundamento antropológico em mais de 2000 rostos de mulheres (características fisionômicas recorrentes e variantes) por várias regiões do Oriente Médio correlatas às localidades de Magdala e Bethania. Vale notar que o crânio já havia sido objeto de reconstituição levada a cabo por uma dupla brasileira em 2015 e por outra, francesa, em 2017: Curiosamente, ambas apresentaram resultados notoriamente distintos. Desta vez, Átila Soares – especialista também em Antropologia, Arqueologia, e Arte e Tecnologia – opta por não tomar apenas o crânio como sustentáculo, mas trazer ao experimento o protagonismo da Antropologia Física sobre os povos médio-orientais: A razão, segundo ele, é que, para fins de uma boa aproximação, seria prudente não se apostar todas as fichas somente na controversa relíquia. Fato é que, além da Provença, fala-se que Madalena ainda poderia ter encerrado seus dias em Jerusalém, Roma ou Éfeso. Cada uma destas versões é apoiada por um combo de tradições, textos de evangelhos apócrifos, literatura gnóstica, e de autoridades cristãs e autores antigos – como Modestus e Gregório de Tours. O fato é que, sem fontes plenamente satisfatórias sobre sua real aparência – cujos restos franceses já foram também contemplados por Átila -, o autor ainda recorreu a ferramentas de Inteligência Artificial para agregar, em forma de algoritmos, mais uma “necessária frieza matemática” ao projeto. Em termos gerais, esta nova face para a santa é o resultado de uma combinação entre conceitos de Antropologia Física, a reconstituição do crânio provençal e a Inteligência Artificial.
Ingressar no mundo de sociedades antigas com Antropologia e Inteligência Artificial não é uma novidade para o acadêmico: Recentemente, Átila Soares desenvolveu a projeção do rosto da “princesa da Disney” e líder powhatan Pocahontas (1594-1617), cujos resultados foram chancelados pela Pocahontas Foundation de Gloucester, Virginia. Outro de seus experimentos recaiu sobre “Tora”, uma idosa do século XIII recriada pelo Museu da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. As conclusões trazidas por Átila foram aprovadas pela arqueóloga-chefe da equipe, a Dra.Ellen Grav. Também é de sua autoria o projeto que trouxe à luz, em 2021, o que seria a verdadeira face de Maria de Nazaré, mãe de Jesus, com base no Santo Sudário de Turim. O experimento, além de ter sido destaque na National Geographic, ainda teve a chancela da maior autoridade mundial sobre a sagrada mortalha, o já falecido fotógrafo oficial do projeto STURP (1979-1981) e conferencista Barrie Schwortz. Atualmente, um estudo concernente à mesma reconstituição também compõe a Biblioteca do Centro de Estudos do Santuário de N.Sra. de Fátima, Portugal. No caso de Madalena, Átila declara que este rosto poderá agregar reflexões de várias naturezas ao tão extenso e complexo universo que cerca Maria Madalena, uma das figuras mais fortes e complexas da fé cristã.
Autor:
Prof. Átila Soares da Costa Filho é bacharel em Desenho Industrial (PUC-RIO) e pós-graduado em Arte e Tecnologia, Filosofia e Sociologia, Arquitetura e Patrimônio, História da Arte, Arqueologia e Patrimônio, História da América, Paleontologia e Cultura, História e Antropologia. É membro do Conselho Científico na Mona Lisa Foundation (Zurique), na Fondazione Leonardo da Vinci (Milão), no Centro Studi Leonardeschi (Varese), no Comitê Nacional para a Valorização do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Roma), e na revista internacional técnico-histórica Conservation Science in Cultural Heritage, publicada pelo Departamento do Patrimônio Cultural da Universidade de Bolonha em parceria com a La Sapienza (Roma). Átila também é CEO e desenvolvedor da “Metodologia Luminari” para análise de atribuição em obras de arte com uso de Inteligência Artificial.
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