Quanto a raça influencia na saúde de um cachorro? – 14/02/2025 – Ciência


Os humanos têm uma longa história de remodelar seus companheiros caninos, que evoluíram dos antigos lobos. Há pelo menos 10 mil anos, povos árticos usaram a criação seletiva para dispor de cães de trenó, animais tolerantes ao frio com resistência para puxar cargas pesadas por longas distâncias. Com o tempo, cães passaram a ser criados para diversas funções.

“Caçando coisas debaixo da terra, caçando coisas na superfície, caçando coisas voando, caçando coisas na água, correndo em pequenas rodas para girar seu espeto”, disse a bióloga Kathryn Lord, da Escola de Medicina UMass Chan e do Broad Institute. (O cão turnspit, agora extinto, era uma presença constante nas cozinhas europeias, onde era usado para girar espetos de carne na lareira.)

Ainda assim, historicamente, a prioridade era o desempenho —criar cães bons em seus trabalhos.

Isso mudou no século 19, quando se começou a codificar raças existentes e a inventar novas. Em vez de criar cães habilidosos no trabalho, a ideia era chegar ao exemplar físico perfeito, segundo James A. Serpell, professor emérito de ética e bem-estar animal na Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia.

Clubes de raça criaram padrões que especificavam como o pointer perfeito (ou bulldog ou foxhound) deveria parecer. Eles identificaram cães que se encaixavam nos critérios e os registraram como membros oficiais dessas raças. Em seguida, usaram esses cães para reproduzir mais cães iguais a eles. Como resultado, cada raça se tornou uma população distinta e reprodutivamente isolada.

Pequenas alterações genéticas podem resultar em cães muito diferentes

Nos humanos, a aparência física é o produto de muitos genes diferentes, cada um dos quais normalmente tem um pequeno impacto. Por exemplo, centenas de variantes genéticas são conhecidas por afetar a altura; muitas dessas variantes causam diferenças de menos de um milímetro.

Isso não é incomum em populações naturais, de acordo com o especialista em genética canina Adam Boyko, da Universidade de Cornell. Segundo ele, na natureza, uma única mutação genética que de repente produzisse um lobo em miniatura provavelmente representaria uma desvantagem de sobrevivência suficiente para ser eliminada pela seleção natural.

No entanto, nos cães “os humanos interferiram em todo esse processo”, afirmou Boyko. Uma mutação que causou uma mudança física drástica foi uma oportunidade, permitindo aos humanos, por exemplo, transformar um schnauzer gigante em um miniatura. Assim, em vez de serem removidas da população, algumas dessas mutações se tornaram a base de características que definem raças.

Hoje, muitas das diferenças físicas marcantes entre as raças derivam de um número relativamente pequeno de genes. O gene para um hormônio de crescimento conhecido como fator de crescimento semelhante à insulina-1 é um determinante chave do tamanho corporal de um cão. Raças pequenas e grandes geralmente têm versões diferentes desse gene. E apenas três genes dão origem a grande parte da variação nas pelagens, determinando se o pelo de um cão é longo ou curto, liso ou áspero, ou reto ou encaracolado.

Raça está intimamente ligada à saúde

Atualmente, a maioria das raças é geneticamente homogênea e altamente consanguínea. Cães da mesma raça tendem a ser suscetíveis às mesmas doenças, e doenças que são comuns em algumas raças são raras em outras.

“Quando você vai a um médico, eles pedem um histórico familiar”, disse a geneticista veterinária Danika Bannasch, da Universidade da Califórnia, Davis. “Nós não precisamos fazer isso. Quando o cachorro entra, e é um labrador retriever, já sabemos quais doenças seus parentes provavelmente tiveram.”

Em alguns casos, os problemas de saúde surgiram como subprodutos do cruzamento consanguíneo. Como as raças são populações geneticamente fechadas, uma mutação causadora de doença que surge em um cachorro pode rapidamente se tornar comum nas gerações futuras. “Especialmente se o animal com essa mutação for de outra forma um espécime de qualidade”, disse Serpell. “Porque todos vão querer cruzar com esse indivíduo.”

O resultado é que muitas raças modernas sofrem de doenças que os amantes de cães nunca teriam selecionado deliberadamente. Os labradores retrievers são propensos a uma doença ocular degenerativa conhecida como atrofia progressiva da retina, enquanto os cavalier king charles spaniel frequentemente desenvolvem uma condição cardíaca chamada doença da válvula mitral.

Vira-latas e cães de raça mista podem ser mais saudáveis do que os de raça pura, especialmente se tiverem pequenas quantidades de DNA de muitos tipos diferentes de raças, segundo Bannasch.

Mas alguns cães de raça mista ainda podem ser altamente consanguíneos, de acordo com ela, e alguns problemas de saúde são comuns em várias raças. Muitas raças grandes são propensas ao câncer ósseo, por exemplo; misturar algumas delas pode não ter muito benefício.

Ligação entre raça e comportamento é menos clara

Ao criarem raças modernas, os humanos geralmente põem muito mais ênfase na aparência do que no comportamento, que também é moldado pelo treinamento e pelo ambiente inicial do cão.

“Os traços comportamentais definitivamente variam de raça para raça, mas não tão fortemente quanto os traços morfológicos”, disse Boyko. “Você nunca vai ter um collie que se pareça com um dogue alemão.”

Cientistas descobriram alguns padrões gerais. Terriers, que foram criados para caçar e matar pragas, são mais propensos a exibir “perseguição predatória” do que cães pastores, por exemplo. E, em média, os huskies siberianos são mais propensos a uivar do que os labradores retrievers.

Contudo, no geral, a raça é um mau preditor de comportamento, e há mais variação dentro das raças do que entre elas, descobriram os cientistas. Alguém que deseja um cão amigável que adora buscar objetos e não late não pode contar com isso apenas trazendo para casa um labrador retriever. “Você pode obter exatamente o oposto disso”, disse Lord.



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