Vida inteligente: rara ou provável no Cosmos? – 15/02/2025 – Reinaldo José Lopes


Anda meio difícil falar das origens da vida inteligente na Terra e no resto do Universo nos últimos tempos. Sempre aparece um engraçadinho perguntando (não sem alguma razão): “Ué, vida inteligente na Terra? Onde?”. Faça um esforço para esquecer a piada pronta, porém, porque, na falta de algo melhor, de fato a inteligência “de tipo humano” parece ter surgido uma única vez por aqui (e no resto do Cosmos, até onde sabemos).

Bem, pelo jeito isso quer dizer que ela é muito improvável e enfrenta uma série de barreiras para evoluir, certo? Talvez não.

É isso, em suma, o que conclui um intrigante artigo científico sobre o tema publicado na sexta (14). Ele tenta examinar tintim por tintim os supostos pré-requisitos improbabilíssimos para produzir criaturas como nós e conclui que eles são muralhas evolutivas mais ilusórias do que se imaginava.

Tudo isso está nas páginas da revista Science Advances, num trabalho coordenado por Daniel Mills, da Universidade Ludwig Maximilian de Munique.

Mills e seus colegas criticam em detalhes um modelo proposto nos anos 1980 que parte de um princípio inegável: de fato, o Homo sapiens chegou tarde. Aparecemos no finalzinho da “vida útil” da Terra, que já somava 4,5 bilhões e só terá, no máximo, mais 1,5 bilhão de anos antes de se tornar inóspita para seres com muitas células como nós.

Esse fato levou muitos cientistas a propor que vários passos preliminares muito improváveis, e que ocorreram uma única vez e nunca mais, tiveram de acontecer na evolução dos seres vivos para que houvesse tempo para surgirmos. E isso significa que, na grande maioria dos planetas semelhantes à Terra por aí, a vida não teria a mesma sorte.

A equipe do novo estudo, porém, diz que é cedo para afirmar isso. Primeiro, dizem, a impressão de que esses momentos supostamente únicos da evolução só ocorreram uma vez pode ser enganosa, resultado de uma visão incompleta.

Um exemplo-chave é a origem da nossa atmosfera rica em oxigênio e da capacidade de respirar esse gás. Sem a energia muito maior derivada dessa respiração, organismos complexos e de grande porte teriam muita dificuldade de evoluir.

A gênese desse cenário está ligada a bactérias que faziam (e ainda fazem) fotossíntese e “arrotam” oxigênio. De início, foi um processo trágico —já que o oxigênio também pode ser altamente tóxico—, que eliminou boa parte dos micróbios existentes antes.

E aí está o pulo-do-gato. A capacidade de produzir esse tipo de atmosfera e lidar com ela poderia muito bem ter surgido em mais de uma linhagem de micro-organismo. Mas, depois que o primeiro grupo de seres vivos fez essa mágica, é como se eles tivessem subido para o andar de cima com a escada e jogado a escada fora: nenhuma das espécies do mundo “pré-oxigenado” agora teria a chance de desenvolver essa característica de forma independente, porque já estavam mortas.

Isso poderia ter acontecido diversas vezes ao longo da história da Terra, num processo de evolução conjunta das condições ambientais e dos seres vivos. Se a ideia estiver correta, haveria uma sequência semelhante de passos em boa parte dos planetas semelhantes ao nosso galáxia afora, que os nossos telescópios, quiçá, serão capazes de flagrar.


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