Petistas querem levar governo mais à esquerda para reverter impopularidade de Lula



Para conter o derretimento da popularidade do presidente Lula, atestado em recentes pesquisas de opinião, uma ala do PT já tem a resposta: levar o governo ainda mais para a esquerda, de modo a recuperar a confiança de grupos tradicionalmente mais fiéis a Lula e que registraram as quedas mais drásticas no apoio ao presidente. Essa guinada estaria sendo defendida até mesmo por membros de correntes menos radicais do partido. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Em dois meses, segundo pesquisa Datafolha publicada na sexta-feira, a aprovação do governo Lula caiu de 35% para 24%, enquanto a reprovação subiu de 34% para 41%. Ambos os números são recordes para todos os mandatos presidenciais do petista, ou seja, nem mesmo no auge da crise do mensalão, durante seu primeiro mandato, Lula teve números tão ruins. A queda na aprovação foi ainda mais drástica em alguns grupos específicos: 20 pontos entre eleitores de Lula (64% para 44%), 16 pontos no Nordeste (49% para 33%), 15 pontos entre negros e entre quem ganha até dois salários mínimos (44% para 29% nos dois casos) e 14 pontos entre as mulheres (38% para 24%).

Na avaliação do partido, a “crise do Pix”, envolvendo uma normativa da Receita Federal (depois anulada) sobre monitoramento de movimentações financeiras, e a inflação persistente, com aumento forte nos preços de alguns alimentos, como o café, contribuíram para os números ruins. Na tentativa de revertê-los, Lula colocou o marqueteiro Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social (Secom) e deve retomar as viagens pelo país. No entanto, segundo a apuração do Estadão, vários líderes petistas acreditam que só isso não basta, e que o governo precisa abraçar as pautas e práticas mais caras à esquerda, em vez de “seguir o mercado”. Esta avaliação foi feita não apenas por membros das correntes mais radicais do PT, mas também por integrantes da Construindo um Novo Brasil, ala majoritária e mais pragmática do partido, à qual pertencem Lula, Fernando Haddad (ministro da Fazenda) e Gleisi Hoffmann (presidente do partido). Esta guinada consistiria, em outras medidas, no fim da ênfase na política fiscal, que segundo esses petistas é um discurso do mercado, mas não do PT.

Ainda de acordo com o jornal paulista, o dilema deve permear a sucessão no comando do PT. Gleisi – que, apesar de ser da mesma corrente de Haddad, sempre fez críticas bastante ácidas à condução da política fiscal do governo – deve assumir um cargo no governo, deixando o PT com um presidente-tampão até julho, quando ocorre a eleição interna, outro tema que divide os petistas, já que uma ala prefere a eleição direta, com voto de todos os filiados, e outros preferem a eleição indireta por meio de delegados. O ex-prefeito de Araraquara (SP) Edinho Silva, de perfil moderado e conciliador, é o favorito de Lula, mas, segundo o Estadão, ele é visto com reservas entre algumas lideranças do partido; Gleisi, por exemplo, já disse que seria “justo e natural” que o próximo presidente do partido seja do Nordeste, o que favorece o deputado José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara.

O vencedor desta disputa estará à frente do PT na campanha eleitoral de 2026, em que Lula disputará a reeleição ou escolherá um sucessor. Os interlocutores de Lula ouvidos pelo Estadão afirmam que, se Lula não reagir rapidamente, há risco real de derrota no ano que vem, ainda que o candidato da direita não seja Jair Bolsonaro (PL), atualmente inelegível. No entanto, ressalta o jornal paulista, Lula não tem sucessor de peso; todos os que foram apontados como possíveis “herdeiros” do presidente ou foram queimados em escândalos de corrupção (como José Dirceu e Antonio Palocci), ou foram (e ainda são) fritados dentro do próprio partido (como Haddad).



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