Moraes libera vídeos da delação de Cid; Bolsonaro tinha esperança de fraude



Algumas sessões de tomada de depoimento de Cid foram conduzidas pelo próprio ministro Alexandre de Moraes e pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, além de advogados, enquanto outras tiveram juízes auxiliares e outros integrantes do Judiciário.

Segundo Cid, em uma das gravações, Bolsonaro sempre dava a entender que algo poderia acontecer para convencer as Forças Armadas. “O ex-presidente mantinha a chama acesa”, disse afirmando que não acreditava que um suposto golpe poderia acontecer.

“Ele tinha esperança que, até o último momento, fosse aparecer uma prova cabal que houve fraude nas urnas. E teria o povo na rua, mobilização, Forças Armadas”, emendou citando um prazo até o dia 31 de dezembro de 2022.

Cid explicou que essa esperança foi um dos motivos para Bolsonaro não desmobilizar as manifestações em frente aos quartéis, principalmente no Quartel-General do Exército em Brasília.

“Muita gente dava pra ele um assessoramento, uns eram radicais e outros medianos, ‘não concordamos, mas não tem o que fazer’, e outros eram conservadores”, emendou afirmando que o presidente chegou a ser recomendado para desmobilizar as manifestações e aceitar a derrota para ser oposição ao então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em outro, ele cita uma cobrança do tenente da reserva Aparecido Portela, suplente da senadora Tereza Cristina (PP-MS), de organizadores do acampamento montado em Brasília por alguma ação que poderia levar ao suposto golpe.

“A pressão estava começando, ainda mais dele, porque ele conhecia o pessoal do agro. E o pessoal do agro, não vendo nada acontecer, eles achavam que ia acontecer alguma coisa, eles estavam naquele ‘é hoje, hoje vai acontecer’, nessa angústia de esperar que fosse dado o golpe, que o presidente assinasse um decreto e as Forças Armadas fossem fazer alguma coisa”, disse ressaltando que houve contribuição para a mobilização popular.

Mauro Cid disse, ainda, que recebia centenas de mensagens de pessoas perguntando se seria adotada alguma ação para “virar a mesa” contra a posse de Lula.

Veja em instantes, na Gazeta do Povo, a íntegra dos vídeos.

Defesa pediu acesso às gravações

Nesta quinta (20), Moraes atendeu a um pedido da defesa de um dos 34 denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para ter acesso às gravações. Entre eles estão, ainda, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os ex-ministros generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno.

“A garantia constitucional da ampla defesa e do contraditório exige que os denunciados tenham acesso a todos os documentos e provas utilizados pelo Ministério Público no momento do oferecimento da denúncia”, escreveu Moraes no despacho a que a Gazeta do Povo teve acesso.

“QUE o ex-Presidente JAIR BOLSONARO tinha certeza que encontraria uma fraude nas umas eletrônicas e por isso precisava de um clamor popular para reverter a narrativa: QUE o ex-Presidente estava trabalhando com duas hipóteses: a primeira seria encontrar uma fraude nas eleições e a outra, por meio do grupo radical, encontrar uma forma de convencer as Forças Armadas a aderir a um Golpe de Estado”, disse Cid em um dos depoimentos à Polícia Federal.

A delação de Cid consta em um processo dividido em quatro longos volumes que somam mais de 800 páginas e relatam, ainda, a suposta operação para adulterar o cartão de vacinação contra a Covid-19 a mando de Bolsonaro; a venda de joias recebidas de presente de autoridades estrangeiras; e o alegado “gabinete do ódio” para a “criação e repercussão de notícias não lastreadas ou conhecidamente falsas com o objetivo de atacar integrantes de instituições públicas, desacreditar o processo eleitoral brasileiro, reforçar o discurso de polarização”.

Cid também relata o que tinha conhecimento da suposta tentativa de interferência no deslocamento de eleitores do Nordeste no segundo turno da eleição de 2022 pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), a atuação do hacker Walter Delgatti para encontrar vulnerabilidades na urna eletrônica, entre outros assuntos.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro afirmou que o planejamento de todo o suposto golpe de Estado se deu em “praticamente dois meses desde o final da eleição, até quando o presidente Bolsonaro deixou o país, deixamos o país por término de mandato”.



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