Nem ‘A’ e nem ‘B’: Caiado não está nos planos de apoio de Bolsonaro

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) lança a pré-candidatura à presidência no próximo dia 4 de abril, no estacionamento da Assembleia Legislativa da Bahia. Apesar do chefe do Executivo goiano já ter verbalizado o interesse em ter o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele não está no plano do antigo gestor federal. 

Primeiramente, Bolsonaro mantém o discurso de pré-candidato e único e representante da direita no páreo, apesar de inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo, ele teria outras preferências antes de Caiado. 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é uma delas. O gestor, inclusive, participou de podcast com Bolsonaro, recentemente. À época, ele reforçou ter Bolsonaro como nome na disputa e que estaria com ele “até debaixo d’água”. Além disso, garantiu que disputaria a reeleição.

Não dá para cravar nada do que foi dito. Bolsonaro dificilmente reverterá a inelegibilidade. Além disso, tem pela frente um julgamento que pode levá-lo à prisão por suposta participação em uma trama golpista. Tarcísio, hoje, é visto como principal substituto do ex-presidente. 

Contudo, também não é garantido que Bolsonaro “tire o time de campo” antes do começo da campanha. Nesse caso, o governador de São Paulo não teria tempo hábil para deixar o mandato – o que deve ocorrer seis meses antes da eleição – e seria “forçado” a concorrer à reeleição – vista como tranquila para ele, neste momento. 

Ainda nesse cenário, o ex-presidente tem pouquíssimas chances de dar a bênção para Caiado. Em uma decisão de última hora, analistas acreditam que Jair endosse o filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como nome à presidência. Hoje, o deputado federal licenciado é cotado ao Senado, posto muito almejado pelo grupo, visto as funções legislativas do cargo, que incluem aprovar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas também aceitar pedidos de impedimento aos mesmos.

Não dá para controlar

Para o professor e cientista político Marcos Marinho, Caiado não é opção para o ex-presidente, “simplesmente porque a opção de Bolsonaro será sempre Bolsonaro. Isso é um fato. Então, ou ele coloca alguém da família que ele possa tutelar ou alguém que ele acredite que vai ser completamente fiel e comprometido com as pautas e anseios unilaterais dele”.

Marinho explica que Caiado não tem esse perfil e Bolsonaro sabe que o governador de Goiás não é dominável. “Não é tutelável. À medida que Caiado ganhar poder, ele vai se desgrudar de Bolsonaro.” Além disso, o professor afirma que não há fidelidade do goiano ao ex-presidente e nem tem motivo para isso. 

“Já houve momentos de ruptura entre eles”, lembra do período de pandemia, quando o chefe do Executivo de Goiás defendeu recomendações da ciência. “Essas situações sempre deixaram claro a identidade e autonomia de Ronaldo Caiado, por isso ele não é opção de Jair Bolsonaro.”

Goiano não espera mais por esse apoio 

Como mencionado, Caiado tenta se viabilizar como uma direita independente, mais moderada em relação ao bolsonarismo. Apesar de pautas conservadoras, o goiano já criticou a pauta da anistia como assunto constante em detrimento de outras pautas. “Nós não aguentamos mais este processo que já vão 2 anos e 3 meses”, disse sobre o perdão aos condenados do 8 de janeiro. 

E completou: “E o Brasil, ao invés de se preocupar com temas relevantes do quadro fiscal, da segurança pública, fica numa pauta que já devia ter sido superada há mais tempo.” Para ele, o Congresso deveria resolver logo esse assunto. 

Outra questão é a visão do STF, que tornou Bolsonaro réu. O governador não vê o poder como ditador, diferente do ex-presidente e seu grupo. “Tentar rotular um poder, de maneira alguma, como democrata que sou, rotularei. Existe um descontentamento por parte do ex-presidente [Bolsonaro] em relação à maneira como está sendo conduzido o processo. Mas, até aí, ser dito ‘ditadura’, não acredito que seja uma ditadura. Acho que deverá ser dada a oportunidade de fazer uma ampla defesa.”

Pelo histórico, é fácil dizer que Bolsonaro não lida bem com posições divergentes. Nesse sentido, a postura de Caiado enterra, praticamente, as chances de receber qualquer apoio do político. 

Estratégia

Sem o apoio de Bolsonaro, Caiado terá desafios. O governador, que também esperava uma participação maciça do cantor Gusttavo Lima – que anunciou que não participará do processo eleitoral de nenhuma forma em 2026 -, deve se ater à estratégia de sair na frente, como primeiro pré-candidato oficial às eleições de 2026.

A atitude é arriscada, mas o gestor estadual busca alavancar o próprio nome, menos conhecido entre outros possíveis postulantes da direita, conforme avaliação de especialistas. Doutor em Ciências da Comunicação e especialista em Políticas Públicas, o professor Luiz Signates corrobora esse entendimento. “A antecipação de candidatura é uma atitude sempre arriscada. Mas Caiado sabe das fragilidades de uma postulação desse nível nascida em um Estado eleitoralmente pouco relevante, como Goiás”, explica.

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Ainda segundo ele, o governador quer, certamente, estabelecer uma situação de fato consumado, garantindo que sua candidatura seja obrigatoriamente cogitada, qualquer que seja a movimentação política que venha em seguida. Com isso, o nome de Caiado gera notícia e é alçado nacionalmente.

“Porém, quem antecipa se torna vidraça cedo demais. Isso pode, também, comprometer a higidez da propositura, caso o desgaste promovido pelo fogo que vem dos opositores – que são sobretudo os adversários do mesmo campo político – seja suficiente para desqualificar a candidatura”, destaca.

O professor e cientista político Guilherme Carvalho também compartilha com Signates a visão estratégica de Caiado e sobre o que muda com o lançamento da pré-candidatura dele à presidência. “Ele faz isso [lançar a pré-candidatura], pois já vem prometendo desde o ano passado, mas porque as pesquisas mostram que ele é um dos candidatos de direita menos conhecidos.”

Conforme Guilherme, a maior dificuldade para um candidato se viabilizar nas eleições nacionais é o fato de ser desconhecido. Ele observa que, apesar de Caiado ter uma grande trajetória política, não é conhecido nos rincões do País. “Então, ele vai tentar fazer isso para peregrinar pelo Brasil, principalmente para onde as pesquisas estão mostrando que ele é menos conhecido”, pontua.

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