George Foreman me chamou de amigo – 22/03/2025 – Esporte


Sempre acreditei que Big George Foreman voltaria a ser campeão mundial. Mesmo quando, ao retornar ao ringue após hiato de dez anos, os jornais estampavam fotos de Foreman acima do peso. Mesmo quando todos reagiam com risadas à sua afirmação de que seu plano era pegar um então invicto, nocauteador e aparentemente invencível “Iron” Mike Tyson.

Comecei a ler tudo o que podia sobre Foreman, foi um grande incentivo para comprar livros e revistas importadas, como as míticas The Ring e Boxing Illustrated, entre várias outras.

Como boxeador amador, uma foto de Foreman decorava meu armário na academia. Não como o destrutivo campeão da década de 1970, mas sua versão acima do peso, careca, mas com seu semblante ainda ameaçador, dos anos 1980.

E gostava de ler como Foreman foi esnobado, acho que por Jim Brown, se sentiu mal e prometera para si mesmo que se fosse alguém algum dia, daria atenção a todos os seus fãs.

Os anos se passaram e tive a oportunidade de conhecer Foreman em 2000, ao cobrir o duelo entre Oscar de la Hoya e Shane Mosley, em Los Angeles. Quando o vi, ele estava conversando com outros campeões; me aproximei e pedi para autografar uma luva de boxe. Firme, um pouco seco, talvez por ter sido interrompido, respondeu que não, e repetiu quando insisti.

Na hora, lembrei do que havia dito sobre ser atencioso com os fãs. Interpretei sua atitude como hipocrisia, agradeci com um “obrigado, senhor campeão mundial” e antes que ele pudesse terminar algo que começava a falar, dei as costas, saí, e o deixei falando sozinho.

Três anos depois, quando Foreman visitou o Brasil para promover o famoso George Foreman Grill, tive a oportunidade de entrevistá-lo.

Ao falar com a assessoria sobre a entrevista, fiquei intrigado quando vi que uma instrução era para não levar luva para ele autografar.

A entrevista correu bem —por motivos óbvios, não citei o ocorrido três anos antes—, mas perguntei porque não gostava de autografar luvas. Ele respondeu que era para não incentivar o mercado de autógrafos falsificados; afinal, se soubessem que não ele assina, não as falsificariam.

Mas, para minha grande surpresa, quando já estava de costas e pronto para deixar a sala, ele perguntou, em um tom bem-humorado: “Mas você ficou bem bravo aquele dia, hein?”

“Quê? Não pode ser, é impossível você ter lembrado…”, respondi, meio que incrédulo.

E ele continuou: “Mas eu lembro, eu lembro…”

Aproveitei o clima amistoso e perguntei se autografaria se levasse uma luva na gravação do programa de entrevistas “Bola da Vez” da ESPN, onde eu seria um dos entrevistadores.

Ele novamente insistiu que não, mas levei outros itens, que ele gentilmente assinou.

E, no camarim, disse a ele que era sua foto que estampava meu armário e me inspirava, não a dos Tysons, Holyfields, ou outros nomes do momento, logo que voltou da aposentadoria.

E agora foi minha vez de surpreendê-lo ao questioná-lo no programa sobre um episódio no qual ele, ao fugir da polícia, se escondeu num lamaçal e lembrou da previsão da prima que o flagrou matando aula e o interrompeu enquanto oferecia desculpa: “Pode continuar assim, George, você nunca será ninguém, mesmo…”

Ele se espantou por eu saber dessa história, e depois comentou: “Você é uma das pessoas que mais sabem da minha história no mundo.”

Ele escreveu algo em um cartão. Milton Leite, que comandava o programa, achou que fosse algo sobre o George Foreman Grill, mas não.

Após a gravação, ele me entregou o cartão com seu endereço no Texas e, para minha total surpresa, disse que autografaria uma luva se a enviasse com o retorno ao Brasil pré-pago.

Ao longo dos anos troquei emails com Big George. Entrevistei-o quando ele gentilmente tomou a iniciativa de ligar para mim para falar sobre boxeadores profissionais nos Jogos Olímpicos para uma reportagem, e quando viu minha surpresa, foi a vez dele de me emocionar, quando disse “sou seu amigo”.

Também acompanhei durante anos sua atividade nas mídias sociais, onde sua atitude positiva era palpável, nunca atacou ninguém, mesmo ao falar de política, valorizou a todos, até ex ou rivais de combates hipotéticos, ao se posicionar sempre de forma bem modesta.

Mas e a tal luva, cheguei a mandar? Não, infelizmente, planejava ainda encontrá-lo pessoalmente em algum momento para que assinasse. Mas ele nos deu algo mais valioso.

Foreman foi um grande atleta, um campeão; mas, mais do que isso, um grande que você pode apontar para um jovem seguir; alguém que há muito estou seguro que contribuiria em fazer do mundo um lugar bem melhor se algo como um presidente do planeta existisse.



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